terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Dom José Tupinambá da Frota-Bispo de Sobral

História de Sobral-Dom José Tupinambá


Dom José Tupinambá da Frota,nasceu em Sobral, Estado do Ceará, Brasil em 10 de setembro de 1882, morrendo naquela mesma cidade em 21 de setembro de 1959, sendo sepultado da Catedral de Nossa Senhora da Conceição da Caiçara, a Sé de Sobral, na capela do Santíssimo Sacramento, cujo epitáfio em mármore, contém as palavras: “Ad pedes Domini pie requiescat”.Era filho de Manuel Artur da Frota e Raimunda Artemísia Rodrigues Lima, Fez os estudos primários na cidade natal, vindo a concluir o curso secundário no seminário de Salvador, ingressou na Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, recebendo o grau de Doutor em Teologia e Filosofia em 1902.Foi ordenado presbítero em Roma em 29 de outubro de 1905, após haver estudado na Pontifícia Universidade Gregoriana e residido no Colégio Pio Brasileiro.Retornando ao Brasil, em 1906, voltou a Sobral ajudando o Pe Diogo da Frota, seu tio, então pároco. Em 1907, a convite de D. José de Camargo Barros, lecionou Teologia Dogmática, Ética e Liturgia no Seminário da Ipiranga, em São Paulo.
Em 1908, retornando ao Ceará, foi nomeado pelo Bispo de Fortaleza dom Joaquim José Vieira, vigário de Sobral, uma das principais cidades do Ceará e berço da tradicional família Frota, de cuja casa era membro.Em em 1916 foi criada a Diocese de Sobral pela bula Catholicae Religionis Bonum, do Papa Bento XV, que em conjunto com a Diocese do Crato (1914) compunham a Província Eclesiástica do Ceará,(1915), com sua Arquidiocese em Fortaleza. Por influência do Metropolita, dom Joaquim, junto ao Núncio Apostólico, o então Monsenhor José Tupimbá da Frota foi nomeado e sagrado como o 1º Bispo de Sobral.Foi sagrado bispo na Catedral de Salvador, na Bahia em 29 de junho de 1916, por D. Jerônimo Thomé da Silva, arcebispo primaz do Brasil, tomando posse solenemente em Sobral em 22 de julho do mesmo ano. A cidade explodiu de satisfação e orgulho.

A escolha do Monsenhor José Tupinanbá ocorreu de forma muito reservada, a fim de evitar-se influências - e fofocas- das lideranças locais nessa nomeação. E surpreendeu os sobralenses, pois, embora cogitada e espereda, não se imaginava tanta celeridade na criação da diocese e designação de seu bispo. Dom José tinha o perfil ideal desejado pelo Arcebispo de Fortaleza, tanto moral quanto intelectual, pois nesse momento histórico a Igreja Católica no Ceará e no Brasil, com a liderança de Cardeal dom Sebastião Leme, arcebispo do Rio de Janeiro, entrava numa nova era de reestruturação.
O projeto político da Igreja no início da década de 1920, tinha os bispos como os principais líderes. Propunha-se uma restauração católica, cujas diretrizes fundamentavam-se na superação do laicismo da Primeira República, quando a Igreja perdeu sua condição de religião oficial, o ensino religioso, a instituição do casamento civil, combate ao socialismo e ao comunismo de forma radical, reforço à hierarquia e a autoridade, uma ênfase na participação em todas as esferas da sociedade, tendo como vértice a formação das elites católicas, círculos operários e até partidos políticos, como foi o caso da Liga Eleitoral Católica (1932), que se instalou em Sobral (22 de novembro de 1932) com a participação direta de Dom José, que entra em confronto com a oposição liderada pelo juiz José Sabóia, tendo dom José saído vitorioso dessa disputa, usando como pseudônimo Chico Monte, de quem seria aliado por muito tempo.

Dom José foi um estudioso da genealogia e sócio correspondente da Academia Cearense de Letras, do Instituto do Ceará e de igual maneira do Instituto Brasileiro de Genealogia.

Um dado curioso sobre dom José, foi a outorga do Título Palatino¹ de Conde Romano da Santa Sé, título esse dado por Pio XII por ocasião das festividades do jubileu de Ouro de sua ordenação sacedotal. Esse festividade, acontecida com grande pompa entre 24 a 29 de outubro de 1955, nessa ocasião a Santa Sé o agraciou com o titulo de Prelado Doméstico, Assistente ao Sólio Pontifício e Conde Romano. Esse título causa muita confusão entre os não informados, pensando-se tratar-se de uma outra designação de bispo e de forma geral diz-se de forma equivocada Bispo-Conde de Sobral. A Santa Sé outorgava títulos de nobreza a bispos e pessoas que prestavam-lhe relevantes serviços, resquícios da Monarquia Papal e dos Estados Pontifícios, abolidos no Século XIX, de forma que no Ceará foram agraciadas somente duas pessoas com títulos nobiliárquicos pontifícios, sejam, dom José, como Conde e Guilherme Studart, como Barão por Leão XIII em 20.01.1900. No Brasil 13 bispos receberam títulos nobiliárquicos de condes, como também outras personaliades leigas receberam títulos diversos, computando-se 61 titulares. Fato é que a elite sobralense via-se com esse título, outorgado a dom José, de certa forma enobrecida também. Ele um teocrata como o foi, aristocrático e vaidoso é elevado a patamares superiores e pode sobrepor-se sobre os seus pares e conterrâneos e tratar com as autoriades políticas brasileiras como um superior: Ele é mais que um simples bispo diocesano é um nobre!http://www.cbg.org.br/arquivos_genealogicos_t_01.htm

Dom José Tupinambá da Frota implantou um modelo de Igreja Católica Romana dentro dos padrões e diretrizes da Santa Sé, tanto liturgicamente como moralmente. Autoritário, era muito intransigente e exigente com seus padres e também com os leigos. Certo padre de sua diocese, já falecido, lamentava-se do mesmo não haver-lhe permitido pagar a contribuição ao então INPS nada além que 1 salário mínimo... Orgulhava-se de não haver uma só igreja protestantes dentro de suas fronteiras eclesiásticas. Era afeito a grandes "pontificais", nos quais usava paramentos feitos em Roma e próprios para o clima europeu, quando Sobral tem uma temperatura média variando de 24 °C, à noite, a 36 °C. Teria comprado um automóvel Rolls-Royce usado unicamente em dias solenes... Criou várias paróquias, ordenou vários padres, que adotavam o modelo centralizador e autoritário de seu bispo e que nem o Concílio Vaticano II (acontecido após a sua morte), foi capaz de modificar as atitudes e ainda hoje persiste na região um certo "coronelismo" clerical, mesmo nas gerações atuais que acabam cedendo à mosca azul que o prestígio interiorano ainda lhes dá.

Sua influência na sociedade foi além de seu poder episcopal. Nas visitas pastorais, realizadas com muita pompa em suas paróquias, formavam-se filas gigantescas de fiéis para o “beija-mão” e à sua saída - sob pálio - e retorno das casas paroquiais, onde hospedava-se, os sinos repicavam em deferência à sua dignidade episcopal, até recolher-se novamente. A submissão do povo cearense da zona norte tem raízes históricas na dominação portuguesa e na catequese jesuítica dos século XVII ao XVIII, pois muitas cidades da região norte do Ceará tem origens nos aldeamentos missionários e nas posteriores "Vilas de ìndios", como é o caso específico de Viçosa (aldeamento da Ibiapaba) que era, então parte integrante da Diocese de Sobral.

Durante seu episcopado, influenciou muito na política local e regional e era um dos líderes políticos regionais, utilizando-se de forma extensiva a Rádio Tupinambá de Sobral - também fundada por ele - e de grande audiência por toda a região e era um dos seus instrumentos ideológicos, políticos e religiosos (cujo Integralismo - os camisas verdes - de Plínio Salgado, estava em voga na Igreja) e que contribuiu muitíssimo na hegemonia desse bispo. Seu braço direito para as ações políticas eram Chico Monte (na década de 30) o Padre José Palhano de Sabóia (na década de 50), o qual tinha como filho adotivo e que foi eleito prefeito de Sobral (1959-1963) depois de sua morte. Os resquícios da participação da igreja de Sobral nos negócios públicos ainda hoje é sentida na região norte do Estado do Ceará, quando muitos padres fazem papéis de "cabos eleitorais" de candidatos locais.

Ao longo dos 50 anos de admistração eclesiástica, 5 de pároco e 43 anos de seu bispo, criou em favor de Sobral - em detrimento das outras cidades da vasta diocese e suas paróquias, e com recursos daquelas - inúmeras instituições dentre as quais podemos destacar os Colégios Sobralense e Sant'Ana - para moças e rapazes da elite -, o Patronato Imaculada Conceição e a Escola profissional São José , o Museu Diocesano, onde ajuntou peças de arte-sacra de suas paróquias, inclusive confiscando relíquias históricas de várias antigas paróquias, o Abrigo e Orfanato Coração de Jesus, o Cine-Teatro Glória e o Jardim Zoológico, a Casa de Saúde São José e a Santa Casa de Misericórdia - que ainda nos dias atuais é centro de referência em toda a região, o Seminário Teológico-filosófico, para a formação de seminaristas, que foi o embrião da Universiade Estadual Vale do Acaraú, UVA e inclusive o Banco de Crédito Popular, que se transformaria posteriormente no BANCESA S/A (que faliu em fevereiro de 2003http://www.massafalidabancesa.com.br/edital.htm), mas que por muito tempo fomentou a economia local.

Dom José foi de forma direta e indireta um dos mentores do desenvolvimento de Sobral e de toda a região Norte do Estado do Ceará, mas também o responsável pelo modelo de Igreja autocrática, ainda persistente naquela região.

Era um estudioso da genealogia e foi sócio correspondente da Academia Cearense de Letras, do Instituto do Ceará e do Instituto Brasileiro de Genealogia.Sua morte, aos 77 anos, deixou um vácuo na igreja de Sobral, pois seu modelo único não podia - nem devia - ser copiado por seus sucessores que optaram por modelos de episcopado mais pastorais - já guiados pelas diretrizes da CNBB - e menos aristocráticos numa Igreja Católica que tentava se atualizar sob as luzes do Concílio Vaticano II.

Referências:

PARENTE, Josênio C. A fé a a razão na política. Edições UVA/UFC - 2009;
COSTA, Lustosa da. Clero, Nobreza e o Povo de Sobral. Brasília, Senado Federal, Centro Gráfico, 1987.
Imagem: Foto de dom José T.Frota, montagem do autor.

Fonte: Blog Iconacional

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