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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Casa Grande - Apresentada na Noite da Biblioteca de Cruz-12.01.2011


A pintura  foi apresentada no dia 12/01/2011, por ocasião do 24º Aniversário da Biblioteca dentro das festividades da Semana de Emancipação de Cruz, sendo apresentada também um histórico sobre a Casa Grande, recuperada através da memória dos Irmãos Zeca Muniz e Gonzaga e seu primo Nego Sousa sobre a coordenação de Evaldo Vasconcelos e Elisabeth Albuquerque. Pintada por Maycon de Lagoa Salgada

MEMÓRIA DA CASA GRANDE

Relato produzido por Elizabeth Albuquerque
A “Casa Grande” como ficou conhecida foi construída por Antônio Carlos de Vasconcellos, meu tetravô, provavelmente nas primeiras décadas de 1800, quando se preparava para casar. Não temos essa data, mas, sua primeira esposa – Maria Angélica, faleceu em 09/06/1827 – e o inventário realizado no mesmo ano pelo viúvo, diz que ela deixou três filhos, o mais velho com 14 anos, o que indica que nasceu em 1813.

Diz a tradição oral que Antônio Carlos (neto de Joana Correia da Silva e Manoel Carlos de Vasconcellos, tidos como os primeiros povoadores de Cruz), usou nessa construção a madeira do desmatamento da área onde se estabeleceu. A casa era de taipa, coberta de telhas e era muito grande. Este casarão atravessou a história, passando de pai para filho por três gerações. Depois foi vendido para o Capitão Antônio Raimundo de Araújo, em data que não descobri, ainda. Mas, com certeza depois da morte de Antônio Carlos (02/05/1870), pois no inventário dele, realizado em junho de 1870 consta a referida casa.

Geraldo Aluizio de Araújo e sua irmã Jordélia, filhos de Celso Araújo e netos do Cap. Antônio Raimundo eram herdeiros do casarão e, pela proximidade familiar venderam-no para a tia Maria Souza (sogra do Aluizio) por Cr$ 10.000,00 no início da década de cinqüenta. Quem me deu esta informação foi o filho mais velho dela (em dez/2010), José Antônio de Albuquerque – conhecido como NEGO SOUSA. Ele só lembra que a compra foi anterior ao seu casamento, que ocorreu em 12/1955, mas eles já moravam lá desde 1950...

Após a morte de Maria Souza, que era casada com Antônio Menezes de Albuquerque – meu tio avô pelo lado paterno – Nego Souza vendeu a casa velha para a Paróquia de Cruz por Cr$ 30.000,00. Disse-me ele que essa importância foi dividida igualmente pelos 10 irmãos e com os Cr$ 3.000,00 que lhe tocou ele comprou a casinha onde mora até hoje.

No livro de Tombo da Paróquia de Cruz o Pe. José Edson Magalhães, nosso primeiro vigário, registrou em 30/12/1958, a compra de um terreno para construção de um prédio escolar e uma casa paroquial pelo valor de Cr$ 28.000,00.

A diferença de Cr$ 2.000,00 corresponde a venda da casa velha para quatro senhores que a demoliram e dividiram o material entre si. Um deles foi o tio Gonzaga que me disse ter participado desta aquisição com os senhores: Manoel Sialdino, Manoel Zaquiel e outro que ele não conseguiu mais lembrar, embora não tivesse na memória este valor. Tio Gonzaga é o único vivo, para contar a história, com seus 84 anos (em dez/2010), quando fechamos este levantamento.

Imaginem só, uma casa de taipa com quase 150 anos, ainda tendo alguém disposto a aproveitar o material. Contou-me uma senhora, de seus setenta e tantos anos, que seu marido assistiu a dita demolição e teria comentado que os amarradios das estacas em muitas das paredes eram de couro de gado (relho, tipo chicote de couro torcido).

O lendário casarão que até então teve sua história reconstituída através da memória dos mais idosos ganhou registro de imóvel. Ele consta do inventário da minha tetravó – Maria Angelica (que descobri em julho de 2010, junto a vários outros antigos, no Arquivo Público do Estado do Ceará), e está descrito assim:

“...Declara o inventariante meeiro haver ficado em seu casal por óbito da dita sua mulher huma morada de casas de taipa, coberta de telha, com quatro portas e uma janela, sitas no sitio denominado Cruz, avaliada pelos avaliadores em preço de vinte mil reis”.

E no inventário de Antônio Carlos (f. 02/05/1870) realizado por sua 3ª esposa, Ignez Maria de Araujo, em junho de 1870, ele aparece com a seguinte descrição:

“... Haverá uma morada de casa de taipa coberta de telha com uma porta de frente com cercado de pau a pique, avaliada por trezentos mil reis, cita na Cruz deste termo – 300$000”

Com esses dados, somados ao conhecimento visual de pessoas idosas – meu pai Zeca Muniz, 90 anos; tio Gonzaga, 84; e Nego Souza, 83 mais a presença de um desenhista contratado pela Prefeitura providenciamos um retrato desta 1ª casa construída no centro da hoje cidade de Cruz, ambientada nos anos de 1930.

Registramos por último que no terreno onde ficava o referido casarão, adquirido pela Paróquia, foi construído apenas o prédio Paroquial, pois o Padre preferiu reformar outra casa do patrimônio da Igreja, transformando-a na residência dos Padres. Com isso, a outra parte do terreno foi vendida para o Jonas Muniz (hoje Prefeito da cidade) que lá edificou sua morada.

Elizabeth Albuquerque, 06/01/2011

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Documentário resgata história das carpideiras

O curta "Carpideiras do Acaraú" busca resgatar a memória de figuras históricas que atuavam em enterros
As carpideiras, com terços , eram chamadas a ficarem rezando, chorando e cantando nos velórios
Sobral. O cinema cearense busca, por meio de um curta-metragem, resgatar a memória das carpideiras, pessoas que tinham como profissão chorar pelos mortos. Os costumes peculiares da gente nordestina, mais precisamente da região do Vale do Acaraú, que por meio do sentimento de dor, choro, lamentação, serão em breve revividos por uma equipe de atores, produtores e figurinistas. Ao redor de um caixão, irão reproduzir uma cena muito comum nos de tempos outrora. O idealizador do projeto, Carlúcio Campos, garante que este mês serão iniciadas as gravações, com previsão de lançamento, conforme decisão da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), em março, após o Carnaval.

O curta "Carpideiras do Acaraú" será filmado nas locações dos Distritos de Jaibaras, Serrado Rosário, Rafael Arruda, Bonfim, Município de Sobral, e outras cidades do Vale do Acaraú: Groaíras, Cariré, Santana do Acaraú e Granja. "Estamos realizando pesquisas que nos leve até esses personagens vivos. Seus relatos nos ajudarão a montar o roteiro do filme, que será baseado em fatos reais", revela Carlúcio Campos, que descreve as carpideiras como "rezadeiras", que acompanhavam as sentinelas e os velórios. "Seu ofício é cantar ´ladainhas´ e ´inselenças´, sempre em prantos com o objetivo de lastimar os mortos. Apesar do surgimento das funerárias com toda a pompa e sofisticação, as carpideiras ainda resistem bravamente às transformações do tempo. Mas são raridades. E é aí que está o foco principal do projeto audiovisual, de fazer um registro antes que não sobre uma para contar suas impressionantes histórias", destaca Carlúcio Campos.

Para tornar possível a realização do documentário, o Governo do Estado, por meio do VII Edital Prêmio Ceará do Cinema e Vídeo-2010, da Secretaria de Cultura do Ceará, contemplou o projeto que tem como proponente o roteirista, dramaturgo e produtor cultural, Carlúcio Campos (roteirista do vídeo). Participação especial das atrizes Lita Ribeiro, Telma Mendes e Rogéria Nogueira que representarão as carpideiras. A direção e fotografia é do cineasta, produtor e diretor, Afonso Celso (Fortaleza); edição e montagem de Fábio do Nascimento; fotografia, Stil de Hudson Costa; e maquiagem de Elisângela Bombom.

Profissão

A profissão de carpideiras já existia antes de Cristo e se estende, a saber, até os dias atuais. No dias do antigo Israel, essas mulheres eram contratadas para entoar canções tristes e chorar em ocasiões de falecimento de um amigo ou de um ente querido, onde muitas lágrimas são derramadas. E, para completar a cena, o grupo que canta benditos como forma de transformar o último momento em situação bem mais sofrida. Em pé ou sentados no chão, homens e mulheres eram chamados a passar a noite inteira velando um morto. Com cânticos piedosos, o intuito era fazer com que os presentes ao velório, chorassem. Além disso, era como se, com o ato, auxiliassem os mortos a entrar no reino do céu.

Carlúcio Campos conta que desde quando começou a fazer cinema em Sobral, despertou a vontade de trabalhar um roteiro que levasse a resgatar esse costume que habitava na região.

Incentivo

Segundo ele, o incentivo começou em 2005, após pesquisa realizada com intuito de descobrir os hábitos dessas pessoas sempre presentes em velórios na região. O filme é um documentário, que apresenta um pouco de ficção. "Como as carpideiras não exercem mais essa atividade, só restam memória, então vamos pegar a história que elas contam e fazer uma representação, por meio de atores daqui mesmo da região", revela Carlúcio Campos.

Não há no Brasil, documentos que possam comprovar a existência de carpideira profissional, chorando o defunto alheio, mediante pagamento. Foram conhecidas em quase toda Europa, e a tradição de chorar, cantar, dançar e ter uma refeição dedicada aos mortos é possivelmente universal e milenar. Indígenas e africanos usavam a prática. No Brasil, a tradição de carpideiras espontâneas foi trazida pelos portugueses, junto com a colonização. A profissão existe há mais de 2 mil anos. Inicialmente, o pagamento não era feito em dinheiro, mas com bens dados pela família do defunto.

Representação
"Como só existe a memória das carpideiras, vamos fazer uma representação, por meio de atores"
Carlúcio Campos
Roteirista, dramaturgo e produtor cultural
MAIS INFORMAÇÕES

Secretaria de Cultura e Turismo de Sobral/ Av. Dom José. 881, Centro/ (88) 3611.2956/2712
www.sobral.ce.gov.br/sec/cultura

FOLCLORE CEARENSE
Dramaturgo se inspirou em livro

Carlúcio Campos conheceu o trabalho literário desenvolvido pela pesquisadora e escritora Cândida Galeno
Sobral. O roteirista, dramaturgo e produtor cultural, Carlúcio Campos, revela que a inspiração para produzir um curta-metragem, narrando a história, dessas carpideiras, surgiu após conhecer o trabalho literário desenvolvido pela pesquisadora e escritora Cândida Galeno, no livro "Antologia do Folclore Cearense", Edições UFC, 1983.

Em um trecho, a escritora narra um fato ocorrido na cidade de Jardim, no ano 1925. A escritora descreve que se tratava de um enterro de primeira classe. Nora de um grande chefe político na cidade. "A casa da morta, como a nossa, ficava situada na Praça da Matriz e pude, assim, observar todo movimento. O enterro verificou-se à noite. As pessoas que acompanhavam, homens, trajavam roupas escuras e conduzia nas mãos velas acesas".

Cândida Galeno escreve os ritos fúnebres no interior do Ceará dividindo em atos. No primeiro item ela descreve o enterro na localidade de Canto Grande. Fala do tratamento do corpo; vestuário do defunto; guarda do morto; a despedida; o acompanhamento do enterro e no domínio da lenda.

Surgimento da ideia
A escritora destaca que a ideia de escrever o trabalho nasceu depois que esteve em julho de 1956 a passar férias no interior do Estado, com a poetisa Abigail Sampaio, no Sítio São Lourenço, Município de São Gonçalo do Amarante, hoje na Região Metropolitana de Fortaleza, onde ensejou oportunidade a assistir um enterro e anotar todas as ocorrências.

Enterro

O enterro em que faz referência aconteceu no dia 25 de julho de 1956. O morto João Maximiano era agricultor, irmão de Josefa e Raimunda Maximiniano, as mais afanadas rendeiras do lugarejo. Cândida Galeno narra que logo que acabou de expirar, ajudado pela invocação de "Jesus, Maria, José a minh´alma vossa é", o morto é levado da camarinha para sala. "Houve o cuidado de efetuar tal transporte com os pés do defunto para o lado da porta da rua, o que é feito para evitar que outra pessoa morra".

Despedida

Enquanto o enterro não sai, entra em cena as carpideiras, que ficam rezando ou cantando terços, benditos. Sem que cesse a reza, ouve-se, por fim, a cantoria de despedida.

O ato de ficar velando o defunto durante as últimas horas que permanece neste mundo, tem várias denominações. Há lugares em que se chama "sentinela" (Itapipoca, Tauá, Juazeiro do Norte); noutros, "quarto" (São Gonçalo do Amarante, São Bernardo das Russas e também Juazeiro do Norte); já na cidade de Limoeiro do Norte é chamada de "guarda".


Wilson gomes 
Colaborador

Fonte: Diário do Nordeste 

Dom José Tupinambá da Frota-Bispo de Sobral

História de Sobral-Dom José Tupinambá


Dom José Tupinambá da Frota,nasceu em Sobral, Estado do Ceará, Brasil em 10 de setembro de 1882, morrendo naquela mesma cidade em 21 de setembro de 1959, sendo sepultado da Catedral de Nossa Senhora da Conceição da Caiçara, a Sé de Sobral, na capela do Santíssimo Sacramento, cujo epitáfio em mármore, contém as palavras: “Ad pedes Domini pie requiescat”.Era filho de Manuel Artur da Frota e Raimunda Artemísia Rodrigues Lima, Fez os estudos primários na cidade natal, vindo a concluir o curso secundário no seminário de Salvador, ingressou na Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, recebendo o grau de Doutor em Teologia e Filosofia em 1902.Foi ordenado presbítero em Roma em 29 de outubro de 1905, após haver estudado na Pontifícia Universidade Gregoriana e residido no Colégio Pio Brasileiro.Retornando ao Brasil, em 1906, voltou a Sobral ajudando o Pe Diogo da Frota, seu tio, então pároco. Em 1907, a convite de D. José de Camargo Barros, lecionou Teologia Dogmática, Ética e Liturgia no Seminário da Ipiranga, em São Paulo.
Em 1908, retornando ao Ceará, foi nomeado pelo Bispo de Fortaleza dom Joaquim José Vieira, vigário de Sobral, uma das principais cidades do Ceará e berço da tradicional família Frota, de cuja casa era membro.Em em 1916 foi criada a Diocese de Sobral pela bula Catholicae Religionis Bonum, do Papa Bento XV, que em conjunto com a Diocese do Crato (1914) compunham a Província Eclesiástica do Ceará,(1915), com sua Arquidiocese em Fortaleza. Por influência do Metropolita, dom Joaquim, junto ao Núncio Apostólico, o então Monsenhor José Tupimbá da Frota foi nomeado e sagrado como o 1º Bispo de Sobral.Foi sagrado bispo na Catedral de Salvador, na Bahia em 29 de junho de 1916, por D. Jerônimo Thomé da Silva, arcebispo primaz do Brasil, tomando posse solenemente em Sobral em 22 de julho do mesmo ano. A cidade explodiu de satisfação e orgulho.

A escolha do Monsenhor José Tupinanbá ocorreu de forma muito reservada, a fim de evitar-se influências - e fofocas- das lideranças locais nessa nomeação. E surpreendeu os sobralenses, pois, embora cogitada e espereda, não se imaginava tanta celeridade na criação da diocese e designação de seu bispo. Dom José tinha o perfil ideal desejado pelo Arcebispo de Fortaleza, tanto moral quanto intelectual, pois nesse momento histórico a Igreja Católica no Ceará e no Brasil, com a liderança de Cardeal dom Sebastião Leme, arcebispo do Rio de Janeiro, entrava numa nova era de reestruturação.
O projeto político da Igreja no início da década de 1920, tinha os bispos como os principais líderes. Propunha-se uma restauração católica, cujas diretrizes fundamentavam-se na superação do laicismo da Primeira República, quando a Igreja perdeu sua condição de religião oficial, o ensino religioso, a instituição do casamento civil, combate ao socialismo e ao comunismo de forma radical, reforço à hierarquia e a autoridade, uma ênfase na participação em todas as esferas da sociedade, tendo como vértice a formação das elites católicas, círculos operários e até partidos políticos, como foi o caso da Liga Eleitoral Católica (1932), que se instalou em Sobral (22 de novembro de 1932) com a participação direta de Dom José, que entra em confronto com a oposição liderada pelo juiz José Sabóia, tendo dom José saído vitorioso dessa disputa, usando como pseudônimo Chico Monte, de quem seria aliado por muito tempo.

Dom José foi um estudioso da genealogia e sócio correspondente da Academia Cearense de Letras, do Instituto do Ceará e de igual maneira do Instituto Brasileiro de Genealogia.

Um dado curioso sobre dom José, foi a outorga do Título Palatino¹ de Conde Romano da Santa Sé, título esse dado por Pio XII por ocasião das festividades do jubileu de Ouro de sua ordenação sacedotal. Esse festividade, acontecida com grande pompa entre 24 a 29 de outubro de 1955, nessa ocasião a Santa Sé o agraciou com o titulo de Prelado Doméstico, Assistente ao Sólio Pontifício e Conde Romano. Esse título causa muita confusão entre os não informados, pensando-se tratar-se de uma outra designação de bispo e de forma geral diz-se de forma equivocada Bispo-Conde de Sobral. A Santa Sé outorgava títulos de nobreza a bispos e pessoas que prestavam-lhe relevantes serviços, resquícios da Monarquia Papal e dos Estados Pontifícios, abolidos no Século XIX, de forma que no Ceará foram agraciadas somente duas pessoas com títulos nobiliárquicos pontifícios, sejam, dom José, como Conde e Guilherme Studart, como Barão por Leão XIII em 20.01.1900. No Brasil 13 bispos receberam títulos nobiliárquicos de condes, como também outras personaliades leigas receberam títulos diversos, computando-se 61 titulares. Fato é que a elite sobralense via-se com esse título, outorgado a dom José, de certa forma enobrecida também. Ele um teocrata como o foi, aristocrático e vaidoso é elevado a patamares superiores e pode sobrepor-se sobre os seus pares e conterrâneos e tratar com as autoriades políticas brasileiras como um superior: Ele é mais que um simples bispo diocesano é um nobre!http://www.cbg.org.br/arquivos_genealogicos_t_01.htm

Dom José Tupinambá da Frota implantou um modelo de Igreja Católica Romana dentro dos padrões e diretrizes da Santa Sé, tanto liturgicamente como moralmente. Autoritário, era muito intransigente e exigente com seus padres e também com os leigos. Certo padre de sua diocese, já falecido, lamentava-se do mesmo não haver-lhe permitido pagar a contribuição ao então INPS nada além que 1 salário mínimo... Orgulhava-se de não haver uma só igreja protestantes dentro de suas fronteiras eclesiásticas. Era afeito a grandes "pontificais", nos quais usava paramentos feitos em Roma e próprios para o clima europeu, quando Sobral tem uma temperatura média variando de 24 °C, à noite, a 36 °C. Teria comprado um automóvel Rolls-Royce usado unicamente em dias solenes... Criou várias paróquias, ordenou vários padres, que adotavam o modelo centralizador e autoritário de seu bispo e que nem o Concílio Vaticano II (acontecido após a sua morte), foi capaz de modificar as atitudes e ainda hoje persiste na região um certo "coronelismo" clerical, mesmo nas gerações atuais que acabam cedendo à mosca azul que o prestígio interiorano ainda lhes dá.

Sua influência na sociedade foi além de seu poder episcopal. Nas visitas pastorais, realizadas com muita pompa em suas paróquias, formavam-se filas gigantescas de fiéis para o “beija-mão” e à sua saída - sob pálio - e retorno das casas paroquiais, onde hospedava-se, os sinos repicavam em deferência à sua dignidade episcopal, até recolher-se novamente. A submissão do povo cearense da zona norte tem raízes históricas na dominação portuguesa e na catequese jesuítica dos século XVII ao XVIII, pois muitas cidades da região norte do Ceará tem origens nos aldeamentos missionários e nas posteriores "Vilas de ìndios", como é o caso específico de Viçosa (aldeamento da Ibiapaba) que era, então parte integrante da Diocese de Sobral.

Durante seu episcopado, influenciou muito na política local e regional e era um dos líderes políticos regionais, utilizando-se de forma extensiva a Rádio Tupinambá de Sobral - também fundada por ele - e de grande audiência por toda a região e era um dos seus instrumentos ideológicos, políticos e religiosos (cujo Integralismo - os camisas verdes - de Plínio Salgado, estava em voga na Igreja) e que contribuiu muitíssimo na hegemonia desse bispo. Seu braço direito para as ações políticas eram Chico Monte (na década de 30) o Padre José Palhano de Sabóia (na década de 50), o qual tinha como filho adotivo e que foi eleito prefeito de Sobral (1959-1963) depois de sua morte. Os resquícios da participação da igreja de Sobral nos negócios públicos ainda hoje é sentida na região norte do Estado do Ceará, quando muitos padres fazem papéis de "cabos eleitorais" de candidatos locais.

Ao longo dos 50 anos de admistração eclesiástica, 5 de pároco e 43 anos de seu bispo, criou em favor de Sobral - em detrimento das outras cidades da vasta diocese e suas paróquias, e com recursos daquelas - inúmeras instituições dentre as quais podemos destacar os Colégios Sobralense e Sant'Ana - para moças e rapazes da elite -, o Patronato Imaculada Conceição e a Escola profissional São José , o Museu Diocesano, onde ajuntou peças de arte-sacra de suas paróquias, inclusive confiscando relíquias históricas de várias antigas paróquias, o Abrigo e Orfanato Coração de Jesus, o Cine-Teatro Glória e o Jardim Zoológico, a Casa de Saúde São José e a Santa Casa de Misericórdia - que ainda nos dias atuais é centro de referência em toda a região, o Seminário Teológico-filosófico, para a formação de seminaristas, que foi o embrião da Universiade Estadual Vale do Acaraú, UVA e inclusive o Banco de Crédito Popular, que se transformaria posteriormente no BANCESA S/A (que faliu em fevereiro de 2003http://www.massafalidabancesa.com.br/edital.htm), mas que por muito tempo fomentou a economia local.

Dom José foi de forma direta e indireta um dos mentores do desenvolvimento de Sobral e de toda a região Norte do Estado do Ceará, mas também o responsável pelo modelo de Igreja autocrática, ainda persistente naquela região.

Era um estudioso da genealogia e foi sócio correspondente da Academia Cearense de Letras, do Instituto do Ceará e do Instituto Brasileiro de Genealogia.Sua morte, aos 77 anos, deixou um vácuo na igreja de Sobral, pois seu modelo único não podia - nem devia - ser copiado por seus sucessores que optaram por modelos de episcopado mais pastorais - já guiados pelas diretrizes da CNBB - e menos aristocráticos numa Igreja Católica que tentava se atualizar sob as luzes do Concílio Vaticano II.

Referências:

PARENTE, Josênio C. A fé a a razão na política. Edições UVA/UFC - 2009;
COSTA, Lustosa da. Clero, Nobreza e o Povo de Sobral. Brasília, Senado Federal, Centro Gráfico, 1987.
Imagem: Foto de dom José T.Frota, montagem do autor.

Fonte: Blog Iconacional