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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Voo de um Pai Poeta. (in memoriam)


Homenagem de Goretti a seu pai Zeca Muniz

Vôo de um Pai Poeta.(in memoriam) Venho hoje buscar no abraço O calor de um ombro e um colo de amor. Quando escrevo compondo eu disfarço E o escuro ilumina sarando essa dor. Quanto tempo calada e falando eu estava Quando o peito dizia em batidas freqüentes Foi a forma encontrada por eu desejada Com os elos das horas montei às mais duras correntes. Quais correntes das bravas nascentes Eu olhava meu rio a correr, a passar Fui a gota de outras sementes Pranteando e olhando um poeta voar. Quando à espessa camada surgia e cobria Todo o brilho de um olhar, que nasceu e viveu entre versos prosas Minha mente montava mosaicos de alguém que partia Deixando-nos um legado de amor e atitudes honrosas. Do poeta de falas e frases pensadas, Sou um galho, pequena vertente. Vou crescer pra de um Pai eu poder mais dizer Que o cometa era um homem franzino de mãos calejadas Tinha à luz do saber, tinha um muito de Deus em seu Ser! Por uma filha. 

Goretti Albuquerque

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Cantadores de praia


Eles não são levados a sério por ninguém: nem pelos próprios colegas de profissão, nem pelos admiradores da cantoria de viola nordestina. Chegam a “encher o saco” dos banhistas que no final de semana vão pegar um bronze na praia, entornar uma loira suada, ou uma cachacinha com peixe frito nas praias da capital e do litoral de Pernambuco. São chamados - Cantadores de Praia. Aliás, a maioria dos banhistas bronzeados não gosta desse tipo de artista relacionado à cultura do povo, preconceituosamente chamados “ratos de praia” por não estar de braços com a mídia, e nem fazer parte da novela das oito. Mas, não fica só por aí.

Os próprios colegas de profissão não têm simpatia pelos divulgadores de “versos decorados”. Não é bem assim. Apesar deles em certo momento encherem realmente o nosso saco, com o atenuante de venderem falsos produtos, esses cantadores fazem um esforço tremendo para complementar seus parcos salários, exercendo a profissão de cortadores de cana, de modo que, nos finais de semana eles migram para o Recife e se espalham pelas praias, ruas e restaurantes da capital com as violas à tira colo, em busca de um complemento que lhes garantam o sustento da família. 

Na verdade, não existem cantadores de viola (no caso de Pernambuco), somente na região do Pajeú, mas nas cidades de: Carpina, Limoeiro, Camutanga, Cumaru, Glória do Goitá, Aliança, todas da Mata Norte. Eles compõem um bloco de cantadores nativos, que promovem Festivais de Viola, na medida deles, para a comunidade deles. Comunidade que já é familiarizada com o improviso dos seus nativos brincantes e mestres de maracatus, com suas – Sambadas. Alguns cantadores são funcionários das prefeituras da região. Estes engrossam o cordão para a realização dos Festivais.

Os cantadores de praia são credenciados no momento em que uma boa parte pertence a - Associação de Poetas Repentistas de Olinda, mas nem por isso deixam de ser discriminados por aqueles que se consideram os donos do improviso. Eles dificilmente são chamados a participar de Congressos de Cantadores, sendo também incomum a participação de mulheres repentistas nestes mesmos congressos, onde os participantes, são legitimados pelos ouvintes, têm um poder aquisitivo bastante considerável, e renda mensal superior a determinados gestores. Isso é verdade.

Tem um grupo seleto de cantadores, principalmente aqueles que rodam as premiações entre si, obtendo a primeira ou a sexta premiação que levam uma vida privilegiada, e com todo o direito. São artistas de primeira, e merecem sim. Mas, nem todo jogador de futebol é Romário. Os demais jogam também, têm famílias pra sustentar, e o espaço dá para todos. Mas, dizer que existe solidariedade entre eles, aí, são outros quinhentos.

A visão política, social e cultural do País, é privilégio de poucos cantadores. Isso é uma coisa, tirar lama do porão é outra. O cantador - José Rosa, mais ou menos 70, funcionário da Prefeitura de Aliança, promoveu vários encontros de cantadores de pequeno porte. Isso significa muito. A comunidade da região já possui uma visão prática de versos de improviso porque conhece os seus conterrâneos que lidam com as Sambadas, com a musicalidade ritmada, e cadenciada através de seus brincantes, mestres de maracatus.  É uma região rica, privilegiada.

Não é de graça, que artista do nível de Siba Veloso resolva residir por um bom tempo junto aos brincantes e mestres de maracatus, em Nazaré da Mata, com a responsabilidade de difundi-los para o mundo, como o fez. Não é de graça que um artista, poeta e compositor da magnitude de Jorge Mautner, venha lançar seus discos diretamente com os mestres e parceiros de maracatus, lá em Nazaré da Mata.

É uma pena que as autoridades no assunto, e do Estado, que têm a chave do poder, não oportunizem uma interligação entre essas culturas de regiões diferentes, embora que dentro do próprio Estado, para que eles se fortaleçam, e exportem esse riquíssimo acervo cultural de tamanha grandeza. Isso na Europa teria com certeza um tratamento bastante diferenciado.  O Pajeú é um local muito rico dentro desses princípios, todavia, está longe do poder, da mídia, das decisões. Então, por que não fundir essas duas culturas para o crescimento poético, cultural e turístico do Estado? 

O poeta Jaime (não tivemos mais noticias), nessas alturas com mais ou menos 70  anos de vida, resolveu deixar a cidade de Limoeiro, para residir e exercer a profissão de cantador  em Recife. A explicação dele é pertinente, e tem procedência, justo que um homem de idade avançada não pode mais ir, e vir com regularidade, seu lombo não mais permite esse esforço. Além do mais, a mixaria por ele captada nas praias, mal dava para pagar uma pensão plano C, porque subtraia o dinheirinho que ganhara com a viola em punho. É ou não sério, um cidadão dessa idade ainda cantando.

Uma característica dos cantadores de praia é sem dúvida, o “balaio” (cantar versos decorados). Inegável na medida em que eles vendem um falso produto, e prejudicam os que de fato improvisam. Então, a impressão que fica no ouvinte a respeito desses cantadores, é que eles na verdade, enchem o saco, com os seus pinicados de viola, no ouvido do cara, que nem pinicado é. Todavia, eles têm todo o direito de batalhar o seu rango. Continuo dizendo. Agora, tem cantador de viola no Estado,  fora do Pajeú, os da própria Mata Norte que se garantem na cantoria. Dispomos de vários nomes, não os citamos porque poderia deixar de lado alguém por esquecimento, e não é bom.

Aliás, poderemos citar um que contempla o nosso raciocínio, e também pela particularidade do caso. Trata-se de - José Galdino, acredito ser ele de Carpina.   É cantador e ao mesmo tempo “brincante”, mas a viola e o repente hoje, parecem ser sua opção de vida mais imediata. Como é necessário dizer que o cantador de viola tem lá seus balaios, e não importa a região, do famoso ao mais fraco. Principalmente quando lhes vem o cansaço, a falta de inspiração, a cantoria morgada, um mote ruim. Aí, é a hora de se empurrar um balaizinho, que “ninguém é de ferro”.



Fonte: Jornal da Besta Fubana

História do Cordel

Na época dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões, etc, a literatura de cordel já existia, tendo chegado à Península Ibérica (Portugal e Espanha) por volta do século XVI. Na Península a literatura de cordel recebeu os nomes de "pliegos sueltos" (Espanha) e "folhas soltas" ou "volantes" (Portugal). Florescente, principalmente, na área que se estende da Bahia ao Maranhão esta maravilhosa manifestação da inteligência brasileira merecerá no futuro, um estudo mais profundo e criterioso de suas peculiaridades particulares.
O grande mestre de Pombal, Leandro Gomes de Barros, que nos emprestou régua e compasso para a produção da literatura de cordel, foi de extrema sinceridade quando afirmou na peleja de Riachão com o Diabo, escrita e editada em 1899:

"Esta peleja que fiz
não foi por mim inventada,
um velho daquela época
a tem ainda gravada
minhas aqui são as rimas
exceto elas, mais nada."
   
Oriunda de Portugal, a literatura de cordel chegou no balaio e no coração dos nossos colonizadores, instalando-se na Bahia e mais precisamente em Salvador. Dali se irradiou para os demais estados do Nordeste. A pergunta que mais inquieta e intriga os nossos pesquisadores é "Por que exatamente no nordeste?". A resposta não está distante do raciocínio livre nem dos domínios da razão. Como é sabido, a primeira capital da nação foi Salvador, ponto de convergência natural de todas as culturas, permanecendo assim até 1763, quando foi transferida para o Rio de Janeiro.

Na indagação dos pesquisadores no entanto há lógica, porque os poetas de bancada ou de gabinete, como ficaram conhecidos os autores da literatura de cordel, demoraram a emergir do seio bom da terra natal. Mais tarde, por volta de 1750 é que apareceram os primeiros vates da literatura de cordel oral. Engatinhando e sem nome, depois de relativo longo período, a literatura de cordel recebeu o batismo de poesia popular.

Foram esses bardos do improviso os precursores da literatura de cordel escrita. Os registros são muito vagos, sem consistência confiável, de repentistas ou violeiros antes de Manoel Riachão ou Mergulhão, mas Leandro Gomes de Barros, nascido no dia 19 de novembro de 1865, teria escrito a peleja de Manoel Riachão com o Diabo, em fins do século passado.

Sua afirmação, na última estrofe desta peleja (ver em detalhe) é um rico documento, pois evidencia a não contemporaneidade do Riachão com o rei dos autores da literatura de cordel. Ele nos dá um amplo sentido de longa distância ao afirmar: "Um velho daquela época a tem ainda gravada".


A simplicidade da contagiante literatura de cordel


O Brasil possui uma riqueza cultural inestimável. Disso, ninguém duvida! No entanto, muitas culturas encontradas na imensidão territorial brasileira não são, originalmente, do nosso povo. A literatura de cordel é um dos interessantes exemplos. Vinda de Portugal, ela é bastante praticada na região nordeste do Brasil. De lá, surgiram os principais artistas nacionais.

A literatura de cordel é um poema popular cantado, inserido em folheto rústico e colocado em varal de corda para ser vendido. Porém, no nordeste brasileiro a cultura de pendurar os poemas em barbantes não é perdurou. Mas eles continuam sendo elaborados e comercializados. Alguns folhetos possuem até gravuras, ilustrados com xilogravura.

Os poemas possui um texto rimado e as estrofes mais frequentes são aquelas que apresentam 10, 8 ou 6 versos. Os cantores da literatura de cordel são conhecidos pelo nome de cordelistas. Eles recitam o texto com uma cadenciada melodia, acompanhados pelo som da viola. Alguns cordelistas as vezes se empolgam na cantoria para, assim, conquistar os possíveis compradores de literatura de cordel. Algum já te conquistou? Você já comprou algum poema em folheto? O que achou?



Fonte: Cultura Digital Kátia Rabelo

Abra a janela...

Abra a porta
Basta uma flexa pra entrar estrelas
Abra as mãos para segurar as minha
Abra esse sorriso cristalino
Que ilunina seu rosto e o meu
Abra o coração
Deixa o sonho acontecer
Abra a porta pra solidão sair
Pro sonho habitar outra vez
Abra os olhos
Para que a beleza possa se refletir dentro deles
Abra sua alma
Para o amor outra vez
Abra seus braços
Para abraçar a esperança
Abrace-me...
Eu ainda estou esperando
Aquele abraço que ficou no ar.

Tereza Maria,professora de Sociologia da E.E.F.M. Carminha Vasconcelos da cidade de Morrinhos-Ce

Fonte: Blog da Tereza Maria

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A poesia laudatória nordestina nos versos de Gilmar Leite, sob a luz do Romantismo

Vinte anos! derramei-os gota a gota
Num abismo de dor e esquecimento...
De fogosas visões nutri meu peito...
Vinte anos!... não vivi um só momento!

(Álvares de Azevedo)

Mesmo fazendo versos sem ciência do termo "laudatório", alguns poetas nordestinos cantam exaltando a vida, por vezes sofrida, de personagens do cotidiano sertanejo, como se a literatura já fosse inerente n"alma do vate. O poeta Gilmar Leite, natural do sertão de São José do Egito, cidadezinha pernambucana às margens do Rio Pajeú, em seus versos, canta uma louvação a uma prostituta que viveu na cidade nos idos de 70, chamada Severina Branca. No tempo em que as meretrizes eram muito pobres ou de pouca beleza, vendendo o corpo para alimentar seus filhos, muitas vezes de pais que não assumiram, e sem o amparo dos órgãos governamentais, Severina Branca foi a pioneira naquele recanto sertanejo de pouca fartura.

Na voz de Severina Branca, o poeta Gilmar Leite decanta a alma romântica do "eu oprimido", esmagada pela solidão e pela brutalidade do mundo. Uma espessa melancolia se apossa dos seus versos, e por todos os lados vê-se o lado sombrio e inútil da existência. Ao sentir que os seus vínculos com o mundo foram rompidos, o poeta apega-se no próprio "eu". Um "eu" incômodo, estranho, que ameaça ora com o caos, ora com o êxtase, ao mesmo tempo, um "eu" angustiado, incapaz de transformar o mundo. O poeta utiliza aspectos da literatura romântica com gritos de subjetividades que confessam seus medos e sofrimentos.

Gilmar Leite verseja a inconformidade do artista romântico com o "mundo cruel" com uma série de procedimentos de fuga, dando voz à Severina Branca, cujo silêncio da noite é a única testemunha daquela vida de muitos pecados. Já que a sociedade não quer escutá-la ou não sabe compreendê-la, já que ela está perdida numa realidade incômoda e brutal, já que sua sensibilidade não possui força para mudar o destino, resta-lhe apenas a tentativa de escapar dessa noite silenciosa, abrindo seu coração para as amarguras da vida.

Uma das características românticas é o "mal do século", uma "enfermidade moral" e não física. Resulta do tédio ("ennui", "spleen"), mas não do tédio comum (aborrecimento diante da chatice da vida). A concepção romântica aponta para um aborrecimento desolado e cínico, que ressalta tanto a falta de grandeza da existência cotidiana quanto o vazio dos corações sem esperanças. 

Estes acreditam ter vivido todas as paixões e ter experimentado todos os abismos. Severina Branca cria uma espécie de sentimento mórbido de insatisfação da vida e de manso desespero, com a alma machucada de torturas. Algo próximo a sensação de absurdo da vida, quando Severina roga a Deus para que sua vida seja levada, terminado aquele sofrimento agourado por aves estrigiformes de hábitos noturnos.

Em contraponto ao presente insatisfatório, o poeta encontra elementos românticos, constantemente no passado, com versos sublimes, delineando intelectualmente seus valores. Esta condição de mito, onde Severina Branca é ovacionada, obedece a uma tendência de fuga da realidade, pois, de acordo com os ideais românticos, tanto o mundo medieval como o mundo infantil representam o paraíso perdido, uma época de ouro na qual as criaturas seriam felizes. 

Pela nostalgia de um tempo que os artistas do Romantismo desconheciam - caso do passado histórico - nega-se o presente, hostil e causador de sofrimentos, conforme podemos ver na narrativa do poeta Gilmar Leite.

Na poesia romântica brasileira, há grande variedade métrica, de ritmos e de rimas, indicando a liberdade de composição que os autores experimentam. Gilmar leite começa a cantar as desventuras de Severina Branca usando um dístico, glosado e rimado em versos decassílabos. O poeta faz uso intenso de adjetivos, em função de sua força expressiva e de seu poder de qualificar uma numerosa gama de sentimentos expressos no peito de Severina. Os adjetivos, segundo os românticos, ampliam ao máximo a conotação emotiva das palavras, fixando tonalidades e nuanças da natureza e das paixões humanas.

A saudação aos heróis Dante e Virgílio, criando um vínculo divino entre o poeta e o legado dos antigos aedos, serve como guia para contar a história daquela mulher mitológica, que amargou as horas do ocaso, flamejadas nas manhãs do sertão de pernambuco. Ao longo do poema, Gilmar Leite usa uma linguagem romântica, deixando a impressão de nobreza naquele sofrimento sem fim e dando ênfase declamatória à Severina Branca, através de metáforas, hipérboles, alegorias e outras figuras. De alguma maneira, o lirismo desse poeta pernambucano alcançou o grau laudatório dos grandes poetas românticos, conduzindo seus versos para o encantamento, revelado na voz de Severina Branca.


O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Mergulhei nos abismos infernais
Que nem Dante deu passos com Virgilio
Na Procura de achar algum auxílio
Eu sofri nos subúrbios marginais.
Vi o ocaso nas horas matinais
Entre os braços de estranhas criaturas
Que me abraçavam nas horas escuras
Pra sugar do meu corpo um gemido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Troquei beijos com bocas amargosas
Sob as luzes de um velho candeeiro
E senti de alguns corpos podre cheiro
Entre as nevoas de noites vaporosas.
Hoje as marcas das dores horrorosas
São sinais dos momentos de loucuras
Machucando minh"alma com torturas
E deixando o meu ser enlouquecido
O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Inda sinto o tremor das mãos sujas
Afagando o meu corpo pecador
Ao invés do prazer sentia dor
E no meu peito a voz dizendo fujas.
Entre as brechas das telhas as corujas
Agouravam as minhas desventuras
Eu gritava pra Deus lá nas alturas
Leve logo este ser que é tão sofrido
O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Quantos homens chegavam embriagados
Dando chutes na porta como loucos
Os gentis para mim foram tão poucos
Eram seres tristonhos, reservados.
Eu perdi a noção dos meus pecados
Pela fome com facas de perjuras
Que cortava minha alma com agruras
E sangrava o meu peito já ferido
O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Sobre a cama meu corpo se tremia
De fraqueza, de fome e de sede;
Noutro canto meu filho numa rede
Quem olhasse pensava que dormia.
Mas a fome causava-lhe agonia
Lhe roubando fagulhas de venturas
Eram cenas cruéis de vidas duras
Condenadas num mundo corrompido
O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Hoje eu vivo jogada ao relento
Sem um teto sequer para dormir
O passado, o presente e o porvir,
Me jogaram no duro calçamento
Condenada num frio isolamento
O meu corpo só tem as ossaturas
Pra os insetos fazerem aventuras
Ferroando o que já foi consumido
O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

por Alexandro Gurgel

www.grandeponto.blogspot.com

Fonte: Natapress

domingo, 3 de abril de 2011

Pedra 90


Foi um grande siribolo
A festa do Velho Zeca
Home levado da breca
Noventa ano nos côro
A festa foi um estouro
Presente de Aniversário
Convidamo seu Vigário
Pra trazer o sacramento
Muito cedo o movimento
Já batia no portão
O povo da região
Se espalhava no terreiro
Parecia formigueiro
De tanta gente que tinha
O Prefeito também vinha
Mandou a primeira dama
O Velho saiu da cama
Nos braços da filharada
Foi um dia de zuada
Pro Velho Zeca Muniz
O Padre mesmo quem quis
Fazer a missa pequena
Por conta do enfisema
Que maltrata seu pulmão
Subtraído o sermão
Já quase no fim da missa
Seu Zeca já com preguiça
De tanto beijo e abraço
Aparentando cansaço
Se escorava na bengala
Após um monte de fala
Dos filhos e convidados
Seu Zeca mesmo sentado
Fez um discurso de paz
Noventa já é demais
Sorrindo balbuciou
A festa continuou
Com almoço de carneiro
Fazer noventa janeiro
Merece mais do que festa
À noite teve seresta
Para homenageá-lo
Até ao cantar do galo
A barafunda se deu
Velho Zeca adormeceu
Cheio de contentamento
Todo acontecimento
Foi feito pela Salete
Rosa, Maria e Gorete
Zéairto e Zéoreste
Um ribuliço da peste,
Festa danada de boa!!!

Orestes Albuquerque

Fonte: Blog Cavalo de Talo

sábado, 19 de março de 2011

O sonho não morreu

Minha amada terra latina americana
Minha amada África escravizada e desumana
O sonho não morreu
Meu antepassado faleceu
Mas eu estou vivo
“HASTA LA VICTORIA SIEMPRE” meu querido
Eu sei que o que eles querem é padrão europeu
Que o norte-americano é bonito e o feio aqui sou eu
Quem disse que ser negro é ser inferior
Quem disse que o europeu é que é superior
Temos vividos anos e anos como coadjuvantes
Meros figurantes
Desprovidos de ascensão social
Providos de discriminação racial
Latino americano
Não é o Latino rebolando
Não estamos nos jornais e nas revistas
Mas somos sujeitos a todo tipo de revista
Policial que incita
Que pelo a cor da pele somos marginais
Drogados banais
A África outrora rica
Foi invadida e destruída
América Latina já tinha seus moradores
Quando foi violada pelos europeus invasores
Capturaram, subjugaram, mataram e estupraram
Mas nunca foram julgados
Pagamos pelo crime que não cometemos
Você não sabe o que é séculos e séculos sofrendo
“HERMANOS E HERMANAS”
Não deixem apagar a chama
Norte americano vive “MUY BIEN EN SU CASA”
Enquanto a nossa ainda é feita de palha
“NO PUEDE" continuar assim
Temos que lutar até o fim.

Fonte: Web Artigos publicado 14/03/2011 por Alberto Marques Aragão

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Paisagem de interior - Jessier Quirino

Matuto no mêi da pista
menino chorando nu
rolo de fumo e beiju
colchão de palha listrado
um par de bêbo agarrado
preto véio rezador
jumento jipe e trator
lençol voando estendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Três moleque fedorento
morcegando um caminhão
chapéu de couro e gibão
bodega com surtimento
poeira no pé de vento
tabulêro de cocada
banguela dando risada
das prosa do cantador
buchuda sentindo dor
com o filho quase parido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Bêbo lascando a canela
escorregando na fruta
num batente, uma matuta
areando uma panela
cachorro numa cadela
se livrando das pedrada
ciscador corda e enxada
na mão do agricultor
no jardim, um beija-flor
num pé de planta florido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Mastruz e erva-cidreira
debaixo dum jatobá
menino querendo olhar
as calça da lavadeira
um chiado de porteira
um fole de oito baixo
pitomba boa no cacho
um canário cantador
caminhão de eleitor
com os voto tudo vendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um motorista cangueiro
um jipe chêi de batata
um balai de alpercata
porca gorda no chiqueiro
um camelô trambiqueiro
avelós e lagartixa
bode véio de barbicha
bisaco de caçador
um vaqueiro aboiador
bodegueiro adormecido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Meninas na cirandinha
um pula corda e um toca
varredeira na fofoca
uma saca de farinha
cacarejo de galinha
novena no mês de maio
vira-lata e papagaio
carroça de amolador
fachada de toda cor
um bruguelim desnutrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Uma jumenta viçando
jumento correndo atrás
um candeeiro de gás
véi na cadeira bufando
radio de pilha tocando
um choriço, um manguzá
um galho de trapiá
carregado de fulô
fogareiro abanador
um matador destemido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um soldador de panela
debaixo da gameleira
sovaqueira, balinheira
uma maleta amarela
rapariga na janela
casa de taipa e latada
nuvilha dando mijada
na calçada do doutor
toalha no aquarador
um terreiro bem varrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um forró de pé de serra
fogueira milho e balão
um tum-tum-tum de pilão
um cabritinho que berra
uma manteiga da terra
zoada no mêi da feira
facada na gafieira
matuto respeitador
padre, prefeito e doutor
os home mais entendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.


Jessier Quirino é paraibano de Campina Grande, arquiteto por profissão, poeta por vocação, vive atualmente em Itabaiana. É o autor dos livros "Paisagem de Interior", "A Miudinha", "O Chapéu Mau", "O Lobinho Vermelho" e "Agruras da Lata D'Água", além de cordéis, causos, musicas e outros escritos. O crítico do Jornal do Commércio - Recife fez o seguinte comentário, quando do lançamento de seu último livro:

"A poesia matuta já é um estilo consagrado da literatura brasileira. Nomes como Patativa do Assaré, Catulo da Paixão Cearense e Zé da Luz são conhecidos em todo o país como os principais representantes do gênero. Um pouco menos famoso que os três, mas podendo ser considerado tão importante quanto, é Jessier Quirino, poeta paraibano que vem se destacando por seu estilo humorístico."

 Fonte: Releituras