quinta-feira, 17 de março de 2011

Campo aberto para os stalkers

FOTO: MARILIA CAMELO

Quem nunca olhou o perfil de um amigo ou de desconhecido em redes sociais? Orkut, Facebook e Twitter são os itens de um prato cheio para os curiosos de plantão que sempre guardam um tempinho para fuçar a vida dos outros

Eles são curiosos, gostam de um mexerico, mas tem não tem coragem de se expor. Alguns personagens da matéria ganharam nome fictício com receio de uma repercussão negativa. É o caso do jornalista Lucas Vieira*, de 23 anos, que passa mais de 15 horas por dia na frente do computador. Além do trabalho, aproveita a web para ficar mais informado sobre a vida dos amigos e desconhecidos que pretende conhecer melhor. Ele reconhece ser um stalker. “A internet hoje está por todo lado. É uma importante ferramenta para a comunicação, então estamos sempre conectados. Quando digo que sou ‘stalker’ não é no sentido mais tenso da palavra, e sim pelo fato de que eu realmente fuço a vida de quem me interessa. Percebo meu interesse por alguém quando me vejo fuçando. E percebo quando perco o interesse ao parar de fuçar. É tipo um termômetro.

Não sei explicar bem essa necessidade de saber da vida dessas pessoas, o que ela está fazendo, falando e com quem tem interagido”, comenta.

Desde uma foto bonita ou até saber como anda o namoro de alguém... Estas são algumas ações que podem trazer uma visitinha ao perfil. Lucas conta ainda que o ato de bisbilhotar é mais forte quando está interessado em alguém. “Talvez pelo fato de que em relacionamentos sempre tem o lance de estar concorrendo com outras pessoas, você precisa garantir que seu território está seguro para que possa dar os próximos passos. Também rola com amigos, mas em menor grau de obsessão”, afirma ele. Já Camila Guimarães*, 26 anos, passa até menos tempo na internet, cerca de cinco horas por dia, mas não perde a chance de conferir as últimas novidades de seus amigos. “Como gosto muito de sites de relacionamentos sempre procuro informações para poder manter contato com as pessoas”, diz a estudante, que encara isso como um passa-tempo. Ela conta que geralmente gosta de olhar as fotos de viagens, festas, descobrir quais lugares a pessoa frequenta e de quais comunidades participa.

Camila sabe até que também recebe várias visitas na sua página pessoal. Os desconhecidos, ela vai atrás de saber quem é e encara isso com naturalidade. “Nesses sites de relacionamento a gente fica exposto a qualquer comentário mesmo”, afirma Camila que permite apenas aos amigos verem suas atualizações. “Não coloco nada da minha vida. Antes, tinha muitas comunidades, que mostravam o bairro que moro, onde trabalho, festas que eu ia”, afirma.

Vítima

O estudante de Publicidade Julio Monteiro, 21, já foi vítima de stalkers. "Na época, se usava mais o Orkut, e acabei percebendo pela ferramenta Últimas Visitas, onde a gente ficava sabendo quem entrou no nosso perfil. No começo, eram visitas de perfis totalmente em branco, algumas vezes de amigos do stalker. Mas sempre constante. Talvez estivesse usando o perfil do amigo para despistar. Depois continuou tentando me adicionar em outras redes e até entrar no meu e-mail. Acabei mudando todas as senhas e permaneci um tempo ´trancado´. No fim, acho que o stalker se desinteressou e seguiu o rumo dele", diz com alívio.

Júlio destaca ainda que, às vezes, o stalker é inocente e entra só pra saber mais da pessoa e estabelecer um contato. "Mas, outras vezes é bem mais perigoso, como a tentativa de ´hackear´ suas senhas. Comigo nunca conseguiram entrar de fato, mas tenho amigos que já perderam e-mails por conta disso", comenta.

Júlio admite, inclusive, que atualmente as pessoas estão compartilhando mais sobre a própria vida no mundo virtual. "A gente acaba dividindo demais o que fazemos no dia a dia, dando informação demais. E muitas vezes não se tem muito controle do que aparece para as outras pessoas. Hoje existem ferramentas como o Formsquare que possibilitam saber até mesmo onde você está. Soa perturbador", diz.

Permitir o acesso às informações disponíveis depende de cada usuário. O psicólogo Arthur Petrola destaca que as informações divulgadas nas redes sociais são de responsabilidade dos usuários que as colocam. "Se eu não quero que saibam quais festas eu fui, com quem saí, posso simplesmente não postar isso em nenhuma rede, e consequentemente, menos pessoas saberão desses fatos", observa.

Além disso, Júlio ressalta a possibilidade de "trancar" o perfil. "Também é preciso tomar mais cuidado com o que se divide nessas redes. Acho que é parte de cada um julgar o que é ou não perigoso para se colocar numa rede onde todos tem acesso", afirma.

Vício
O psicólogo destaca que se a pessoa se reconhece um viciado em ´stalkear´ é necessário questionar qual seria o objetivo de querer fuçar a vida dos outros. "O que há de tão desinteressante na própria vida, onde a do outro é mais importante? Por outro lado, somos constantemente sugeridos a prestar atenção na vida, nos defeitos, nas intrigas humanas como forma de entretenimento", destaca.

Segundo ele, se for algo sem controle, vale buscar alternativas para uma vida mais saudável através de ajuda especializada. "Nesse caso, a psicoterapia é um excelente instrumento de auto-descobrimento", sugere.

*Nomes fictícios

ESPECIALISTA

É ruim?

Não sei bem se é possível fazer esse juízo de valor em termos de bom ou ruim. Todo comportamento deve ser observado diante da função que este exerce na vida do sujeito. Nesse caso, temos que pensar em dois sujeitos distintos, quem persegue e quem é perseguido. Há de se ponderar até onde o comportamento de quem persegue prejudica a vida de quem é perseguido, ou seja, se essa perseguição causa transtornos e interferir na vida da vítima. No caso de famosos, diversos artistas possuem fãs que os seguem em redes sociais, que vão a todos os eventos, que sabem de toda a vida por conta de sites de fofocas, portanto, são também perseguidores, porém não há prejuízo para o ídolo e nem para o fã. Contudo, há aqueles que fazem tudo isso, mas ainda invadem as casas, e hotéis, roubam peças de roupa, fantasiam uma vida e a vivenciam como realidade. Esse tipo de perseguição apresenta um nível de patologicidade. É importante salientar, que a perseguição pode ser considerada crime, e transformada em transação penal. Diante desse contexto, acaba sendo de certa forma uma coisa "ruim".

Arthur Petrola
PSICÓLOGO

TESTE
Descubra se você é um stalker

1. De manhã, a primeira coisa que faz é entrar nos perfis de outras pessoas?

2. Entra no perfil de um amigo todos os dias e fala com ele como se não soubesse de nada da vida dele?

3. Conhece alguém numa festa e assim que chega em casa vai procurar os perfis dele (a) nas redes sociais?

4. Cria perfis falsos para fuçar sem levantar suspeitas?

5. Entra em contato com famosos e interage mesmo sem conhecê-los pessoalmente?

6. Entra no Google para procurar mais informações sobre a pessoa?

7. Você acompanha os passos de alguém que pretende ter um romance ou já teve?

Se você respondeu sim a mais de quatro perguntas, pode se considerar um stalker em alto grau.

Izakeline Ribeiro
Repórter

Fonte: Diário do Nordeste

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