terça-feira, 29 de março de 2011

O calvário de José Alencar na luta contra o câncer

Pres. Dilma durante umas das visitas a José de Alencar Foto: Presidência da República
RIO - Desde 1997, quando teve o câncer diagnosticado pela primeira fez, o ex-vice-presidente da República José Alencar, já retirou mais de 20 tumores em 17 cirurgias, e esteve internado diversas vezes para tratar da doença. Ele morreu aos 79 anos às 14h41m desta terça-feira, em decorrência do câncer e falência múltipla dos órgãos.

Em 1997, foram retirados dois tumores, um no rim direito e outro no estômago. Em 2000, Alencar teve extirpado um tumor da próstata. Cinco anos mais tarde, ele foi submetido a uma angioplastia para regularizar o fluxo de sangue em uma das artérias do coração.

Em 2006, nova intervenção cirúrgica, desta vez para a retirada de um tumor maligno de quatro centímetros no abdômen. Em novembro do mesmo ano, mais um nódulo extirpado do abdômen, desta vez em Nova York.

No dia 30 de outubro de 2007, uma nova cirurgia, desta vez no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para a retirada de um terceiro tumor do abdômen, este com 3,8 centímetros de diâmetro.
'Rezem para mim que o negócio está feio', disse, em janeiro de 2008

Entre os dias 3 e 6 de janeiro de 2008, Alencar esteve no mesmo hospital para fazer sessões de quimioterapia por causa de um novo tumor na região do abdômen descoberto em dezembro. Ao deixar o hospital, sempre otimista, mas reconhecendo a gravidade da doença, ele disse:

- Rezem para mim que o negócio está feio. Estou saindo satisfeito porque sou assim mesmo, mas que a coisa é preta, é.

Em agosto de 2008, nova cirurgia para a retirada de três tumores. Bem-humorado, ao sair do hospital Alencar disse que estava se sentindo muito bem, "melhor do que das outras vezes". Ele afirmou ainda que a operação foi "muito grande, muito pesada, mas deu certo". Ele vinha sendo tratado com uma nova droga, fabricada na Espanha, durante as sessões de quimioterapia, e fazia exames preventivos a cada 60 dias.

Em janeiro de 2009, no entanto, o tratamento não estava mais fazendo o efeito esperado, e Alencar teve que se submeter a uma nova cirurgia no Hospital Sírio-Libanês. Considerada de alta complexidade, a operação durou mais de 17 horas. Ao fim, foi retirada da região do retroperitônio (porção posterior do abdômen) um tumor principal, com 12 centímetros de diâmetro e cerca de dez tumores satélites que ficavam próximos ao principal.

Na cirurgia, também foi retirada uma porção do intestino delgado, uma parte do intestino grosso e dois terços do ureter (canal que leva a urina do rim à bexiga), comprometidos pelo tumor. O ureter foi substituído por uma parte do intestino delgado.

Apesar dos riscos, Alencar se recuperou bem e pouco mais de uma semana depois já tinha deixado a UTI e se transferido para o quarto do hospital. Mas só deixou o Sírio-Libanês 22 dias após a cirurgia, e 13 dias depois da alta voltou ao trabalho.

No fim de março, Alencar esteve internado para se submeter a um procedimento médico para retirada de um cateter para reconstituição do ureter. A remoção já estava prevista pela equipe médica que acompanha o ex-vice-presidente.
    "Se Deus quiser me levar, nem precisa de câncer para isso"

Em maio, logo após saber que novos exames indicaram a ocorrência de um sarcoma (tumor maligno) em alguns pontos de sua região abdominal, Alencar disse que não ficou surpreso e que "está bem". Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, afirmou que enfrentaria o novo problema "com serenidade" e que "a vida está nas mãos de Deus".

Uma nova cirurgia, que seria a 16º, foi descartada. Os médicos decidiram junto com Alencar que o melhor a fazer seria voltar com as sessões de quimioterapia.

Em agosto, Alencar viajou de novo para os Estados Unidos, para mais uma etapa do tratamento experimental. No mesmo mês, porém, em exames em São Paulo, descobriu que o tumor em seu abdome havia aumentado. E disse: “Se Deus quiser me levar, nem precisa de câncer para isso”.
A partir de 2010, coração falha

No mês seguinte, precisou ser internado às pressas, para receber uma transfusão de sangue, pois o nível de plaquetas havia caído, devido à quimioterapia. Novos efeitos colaterais da quimioterapia viriam para Alencar em 2010: anemia, água no pulmão, hipertensão.

Se a principal luta de Alencar foi contra o câncer, a partir de julho de 2010 incluiu também problemas cardíacos. Naquele mês, precisou passar por uma cirurgia para colocar um stent no coração. Exames detectaram uma pequena isquemia. Após a colocação do stent, Alencar já brincava, dizendo querer um “leitãozinho”.

Em setembro de 2010, um edema agudo no pulmão levaria Alencar novamente ao Sírio-Libanês. Mas, no mês seguinte, o então vice-presidente, mesmo internado, fez questão de gravar um depoimento para o 65 aniversário de Lula. Durante todos os anos de luta de Alencar contra o câncer, o presidente manteve contato permanente com ele — a ponto de um dos médicos do ex-vice-presidente afirmar, certa vez, que Alencar e Lula se falavam “quase todo dia. Eles se adoram”.

O apoio viria também de cartas e receitas mandadas de várias regiões — por anônimos ou famosos como o ator Mauro Mendonça.

- É uma fábula de correspondência de toda natureza e do país inteiro - comentou Alencar certa vez em 2009.

Eram orações, cartas, e-mails e sugestões de tratamento alternativo, como garrafadas e águas-bentas.

- Essas mensagens me dão muita força. É uma das razões pelas quais tenho melhorado. Fico realmente até preocupado se mereço tudo isso. A própria força se redobra - contou o ex-vice-presidente.

Em 27 novembro do ano passado, Alencar voltou a ser internado para tratar uma obstrução intestina - foi a 16ª intervenção cirúrgica. No hospital, o então vice-presidente, que passou por sessões de hemodiálise, infartou.

Dilma e Lula visitam Alencar no hospital antes da posse da nova presidente. Foto: divulgação
Ele teve alta no dia 18 de dezembro, mas voltou ao Sírio-Libanês no dia 22 com uma hemorragia digestiva. Passou por mais uma cirurgia — a 17ª —, e no dia seguinte recebeu a visita de Lula e da presidente eleita, Dilma Rousseff, para quem disse ter como meta receber alta até o dia da posse.

Alencar foi impedido pela equipe médica do Hospital Sírio-Libanês de comparecer à posse da presidente Dilma Rousseff, no dia 1º de janeiro. Seu desejo era descer a rampa do Palácio do Planalto ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Chegou a se vestir para a ocasião, mas foi convencido pela mulher Mariza a não desafiar as orientações dos médicos.

- É um dever cívico descer a rampa ao lado de Lula -disse aos jornalistas.

No dia 4 de janeiro, Alencar, de 79 anos, apresentou um novo sangramento na região abdominal e voltou para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Um dia antes, um boletim médico divulgado pelo hospital informou que Alencar retomaria o tratamento de quimioterapia contra o câncer no abdômen. Depois de dois meses sem se submeter ao tratamento, os exames indicaram o aumento do tamanhos dos tumores .

No dia 25 de janeiro, após receber a Medalha 25 de Janeiro das mãos de Dilma, foi para casa. Mas, dias depois, voltou ao Sírio-Libanês com uma perfuração no intestino e seu estado de saúde permaneceu grave, porém estável.

No dia 9 de fevereiro, José Alencar voltou a ser internado em caráter de emergência devido a uma inflamação na região abdominal. Conforme boletim médico divulgado pela equipe que o atendeu no hospital Sírio-Libanês, o ex-vice-presidente apresentava um quadro de peritonite por perfuração intestinal e teve de ser submetido a exames.

No dia 16 de março, após fazer mais uma sessão de hemodiálise, José Alencar recebeu alta e pode voltar para casa. O boletim médico informava que Alencar teria alta, mas deveria voltar ao hospital três vezes por semana para sessões de hemodiálise.

Na segunda-feira, dia 28 de março, por volta das duas da tarde, o ex-vice-presidente voltou a ser internado na UTI do hospital Sírio-Libanês, desta vez com uma grave obstrução intestinal. Os médicos da equipe que o atenderam informaram que o estado de saúde José Alencar era bastante crítico.

Fonte: Globo.com

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