quinta-feira, 5 de maio de 2011

Teatro na calçada

A partir de hoje, até domingo, sempre no finalzinho da tarde, o grupo Nóis de Teatro apresenta seu mais novo espetáculo - "O que mata é o costume!". O trabalho pretende suscitar discussões sobre cultura contemporânea, convenções sociais e os paradigmas cênicos do teatro de rua. Tudo isso ao ar livre, bem em frente ao TJA

O grupo cearense Nóis de Teatro, em sua nova montagem, "O que mata é o costume!": Brecht e crítica à cultura pop

Atores, vários equipamentos eletrônicos e músicas em alto volume de cantoras pop internacionais. Tudo isso no meio da rua, bem em frente ao Theatro José de Alencar. A proposta, inicialmente meio maluca, faz parte do espetáculo "O que mata é o costume!", do grupo Nóis de Teatro. A apresentação acontece amanhã, sexta e sábado, e foi montada com apoio da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).

Dividida em dois atos, a peça é uma livre adaptação do texto "Aquele que diz sim, Aquele que diz não", do alemão Bertold Brecht (1898 - 1956), baseado em um conto japonês e escrito em 1930. A temática, no entanto, permanece atual.

No caso de "O que mata é o costume!", a reflexão gira em torno de como o ser humano se comporta diante de determinadas situações. Os dois atos são compostos de situações extremas, com desfechos diferentes. A montagem parte de um processo colaborativo, no qual os atores experimentaram a fusão de elementos do Teatro Épico, do Teatro do Oprimido, da performance e outras linguagens.

"Abordamos pontos como homofobia, matrimônio, aborto e outras situações sociais, nas quais os atores-perfomers precisam tomar decisões, dizer sim ou não, como explica o título do texto de Brecht", explica o coordenador geral do Nóis de Teatro, Altemar di Monteiro. "Muitas vezes não são os personagens que respondem, porque são empurrados socialmente", complementa.

Tudo junto e misturado
A partir disso, a peça propõe uma reflexão ainda mais ampla, sobre a cultura contemporânea e a quebra de paradigmas no teatro de rua. "Ao nos aproximarmos do texto de Brecht, vimos que ele tinha a ver com a quebra de costumes, o que suscitou também uma abordagem de questões políticas e da quebra de paradigmas na concepção dramática e cênica do teatro de rua", analisa Monteiro.

A concepção do espetáculo passou também por uma pesquisa sobre experiências urbanas como performances, happenings e os flash mobs. "Aliamos tudo isso a elementos da cultura pop, da qual nos apropriamos para poder também criticá-la. No espetáculo, usamos músicas de cantoras pops internacionais, como Madonna e Lady Gaga. Vimos que é um barato, as pessoas passam, ouvem o som e param. É uma estratégia diferente de chamar atenção", observa Monteiro.

Já no segundo ato, uma grande novela é apresentada ao público, como uma sátira, uma crítica ao produto enlatado. São utilizadas músicas temas, cenas clássicas e outros elementos relacionados ao formato.

Outra estratégia utilizada na peça para discutir a questão do espaço cênico na rua é a utilização de ferramentas audiovisuais e de equipamentos eletrônicos diverso. "Temos televisões, liquidificador, ventilador. Levamos essa parafernália para a calçada, em uma encenação multi-midiática. Com isso pretendemos questionar o que é o teatro de rua, quais suas novas possibilidades", detalha o coordenador geral.

Todas essas reflexões, e o próprio espetáculo "O que mata é o costume!" derivam de outra peça, "Sertao.doc", também criada pelo grupo e em cartaz aos domingos deste mês no palco sob a passarela do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

"Em ´Sertão.doc´ também utilizamos recursos multi-midiáticos, como projetores e música ao vivo. Em seguida, começamos a afinar mais essas pesquisas a partir da criação de um grupo de estudo, o Regra de Três", recorda Monteiro.

"Sertão.doc" trata de questões sociais relacionadas à terra, a exemplo da reforma agrária. "Envolve experiências que tivemos com assentamentos. Já fomos a Porto Alegre com essa peça, vamos ainda à Bahia e ao Maranhão. Ela nos deu boa visibilidade", comemora Monteiro.

Voltado ao teatro de rua, o Nóis de Teatro existe há nove anos. Entre seus espetáculos mais importantes destacam-se "O Juiz de Paz na Roça" (2007), Artimanhas (2008), "A Granja" (2009), "Sertão.doc" (2010) e "O que mata é o costume!" (2011), totalizando mais de 200 apresentações nos últimos três anos de atividades.

ADRIANA MARTINS
REPÓRTER

MAIS INFORMAÇÕES
Espetáculo - "O que mata é o costume!",
do Grupo Nóis de Teatro. Às 17h30, na calçada do Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525 - Centro). Grátis. Contato: (85) 3101.2583 e (85) 8720.1135

Fonte: Diário doNordeste

Nenhum comentário: