quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Acaraú e Icapuí-Praias estão ameaçadas de sumir

Acaraú e Icapuí têm praias em processo erosão mais acelerado do Estado. Solo mais baixo que o resto da cidade favorece o avanço do mar
 
Praia de Barrinha, em Icapuí, já sofre com o avanço do mar (IGOR DE MELO )
 
Nos próximos 100 anos, é provável que os moradores de Acaraú e Icapuí, a 255 e 202 quilômetros de Fortaleza, respectivamente, vejam parte de suas praias desaparecerem com o avanço do mar. As zonas litorâneas têm faixas de terra mais baixas que o restante da cidade. Isso significa que têm áreas mais propensas à erosão e ao avanço do mar. A explicação é do professor Luís Parente, geólogo e diretor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará.

Os relatos estão especificados no Estudo Erosão e Progradação (recuo) do Litoral
Brasileiro, realizada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). O Labomar participou da coleta de dados da pesquisa no Ceará. A partir de informações colhidas pelos estudiosos cearenses, os pesquisadores do MMA compararam dados mais recentes, de 2008 a 2010, com dados das últimas duas décadas. O estudo foi realizado em todo o litoral brasileiro para avaliar as consequências o avanço e recuo do mar.

A tendência da invasão do mar sobre as praias de Acaraú e Icapuí pode ser amenizada. Um monitoramento das áreas que podem ser afetadas já deve ser pensada pelo Estado, segundo Parente. O tipo de prevenção ainda precisa ser estudado, mas o pesquisador do Labomar indica algumas possíveis soluções: realizar uma contenção com rochas, à modelo da praia do Icaraí, ou remover a população das áreas que seriam mais afetadas. “É preciso haver um programa estadual para prever e mitigar as mudanças”

A partir da pesquisa, apontada como “atlas do litoral”, será possível criar estratégias para reduzir as consequências desastrosas do avanço do mar. “As praias de Acaraú e Icapuí são, atualmente, as que mais sofrem processos de erosão”, conta Parente. Nos últimos 100 anos, o litoral cearense perdeu 3,2 metros de praia.

O Norte e Nordeste são as regiões brasileiras que mais devem sofrer com o aumento no nível do mar. A analista ambiental do MMA, Márcia Oliveira, apontou que os solos no litoral dessas áreas têm plataforma de baixa declividade, ou seja, provocaria mais destruição. “É como se fosse um ‘prato raso’, enquanto no Sul e Sudeste, um ‘prato fundo’”, compara Oliveira.

O aumento do nível do mar e a erosão são processos naturais. A diferença, segundo a analista ambiental, está na aceleração provocada pelas intervenções humanas. “Cerca de 40% do litoral brasileiro passa por erosão ou progradação (recuo) do mar”.

O avanço do mar passa a ser problema a partir do momento em que o homem ocupa a zona costeira. “Onde não exista construção na zona litorânea, nem é possível sentir os impactos do avanço do mar. Onde existe intervenção, as consequências podem ser desastrosas”, pontua Oliveira.

O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O avanço do mar é um fenômeno registrado em 17 estados brasileiros. O Estudo Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro indicou que, além de avançar numa velocidade acima do normal em algumas cidades, o mar também vem recuando em parte significativa do litoral.

SAIBA MAIS
Para evitar os desastres causados pelo avanço do mar, a analista ambiental Márcia Oliveira recomenda, entre outros, a criação de faixas de

não-edificação. Ou seja, uma área delimitada em que não fosse permitida a construção de prédios, casas, restaurantes, etc. Também é fundamental pensar em outras faixas que precisam de manutenção, segundo Márcia, como duas, mangues etc, porque elas ajudam a sustentar a faixa litorânea.

O Ceará possui 19 cidades que fazem fronteira com o mar.

As variações sazonais de direção do vento, ondas, a configuração de marés altas em swells (tipo de onda gigante), o barramento de corredores eólicos, e ocupação inadequada são as principais causas dos processos erosivos.

O clima constitui uma das mais importantes variáveis controladoras do processo costeiro.

Angélica Feitosa
angelica@opovo.com.br 

Fonte: O Povo

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