sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Artesãs contam em cordel história do trançado na palha

Oficinas da UFC capacitam artesãs da Colina do Horto em design e comunicação comunitária

Mãos fazem o trançado na palha de carnaúba e também aprendem a escrever o cordel com os versos sobre o cotidiano do grupo
ELIZÂNGELA SANTOS

Juazeiro do Norte. A história do artesanato em palha de carnaúba das mulheres da Rua do Horto, neste Município do Cariri, começa a mudar de rumo. É que valores estão sendo agregados e dando um novo rumo ao trabalho das mulheres. O aperfeiçoamento da forma de comunicação do grupo de mulheres e o aspecto visual do produto estão sendo redimensionados, com o projeto de extensão "Mulheres da Palha: Empreendedorismo Social no Grupo de Artesãs da Palha da Carnaúba em Juazeiro do Norte".

E as mulheres começam a aperfeiçoar a comunicação do grupo, contando a própria trajetória em forma de cordel. Intitulado "A História das Artesãs de Palha da Rua do Horto", o trabalho foi feito na parceria das mulheres, integrantes do projeto de extensão, com o cordelista Hamurábi Batista. O trabalho tem um caráter educativo.

Maria Luiza Nunes é uma das artesãs integrantes do grupo que recebe capacitação com os acadêmicos da UFC

Uma festa moveu o grupo para o lançamento do cordel, na última semana. O grande passo foi formar uma sede para o encontro das mulheres, na própria Rua do Horto. Coisa que há muito tempo não acontece, segundo as protagonistas da história, que ganhou fama. Nos últimos anos, a falta de estímulo dos próprios filhos das mulheres artesãs acabou desmotivando algumas delas em continuar as atividades. Antes, eram bem mais mulheres participando.

Atualmente, segundo a professora de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rosane Nunes, são 23 mulheres reunidas como parte das atividades. O cordel foi resultado de uma oficina e a primeira ação do projeto. Ela afirma que o objetivo das atividades inicialmente é fortalecer o grupo. Isso envolve o resgate da identidade coletiva das mulheres, além de melhorar a comunicação interna da comunidade local. O segundo projeto a ser desenvolvido será um portfólio com os produtos.

Artesã Maria José Gonzaga é uma artista que explora a criatividade
DIVULGAÇÃO

A educação ambiental está sendo focada no trabalho, envolvendo o Geopark Araripe, já que a área faz parte do Geossítio do Horto. A meta é inserir o material como geoproduto. A coordenadora do trabalho de design, professora Janine Geannal, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atua na área de design. O principal nesse momento, conforme ela, é possibilitar uma melhoria no trabalho já existente, com a variedade de produtos, que inclui desde chapéus e leques até bolsas. E o trançado ganha formas mais aperfeiçoadas e um colorido especial. "Temos levado elas a um processo de reflexão, para uma nova concepção do produto", afirma. E tem dado certo. As artesãs têm assimilado a nova forma de encarar o mercado, com mais empolgação.

A professora do curso de Design de Produtos, da UFC, Juliana Loss, diz que um dos aspectos do trabalho tem sido voltado para um acabamento mais preciso e as mulheres têm percebido essa mudança. A artesã Francinete da Silva diz que os artigos em palha têm adquirido uma nova visibilidade. Ela acredita que a qualidade dos seus produtos obteve uma melhora de 50% desde a implantação do projeto. "Agora estou mais cuidadosa, e o grupo mais forte", diz.


Trabalho em grupo
Para Maria Luiza Nunes, que há vários anos trabalha no trançado da palha, essa tem sido a primeira vez que participa de um trabalho em grupo. Antes a artesãs sequer se encontravam. "Esse projeto veio para engrandecer o trabalho da gente, dar um novo acabamento às nossas peças e possibilitar uma produção de qualidade", diz ela.

O cordel feito pelas artesãs traduz o que é compartilhado pelo grupo, abordando a importância cultural, histórica e ambiental do artesanato em palha de carnaúba. O folheto foi feito na oficina de Comunicação Comunitária que os bolsistas de Comunicação Social da UFC ofereceram às artesãs. Os trabalhos se deram no mês de maio, quando os estudantes trabalharam com o grupo princípios de comunicação e imagem.

MAIS INFORMAÇÕES
Campus da UFC - Cariri
Av. Tenente Raimundo Rocha, S/N
Cidade Universitária, Juazeiro do Norte Telefone: (88) 3572.7200


EXPOSIÇÃO
Quadros em bordado destacam o Cariri
As cores da Chapada do Araripe e a cultura do Cariri são destacadas nos quadros em bordados da artista Maria José (Zeza)

Juazeiro. Um bordado diferente. Em telas, a harmonia de cores para resgatar a cultura da região do Cariri e os seus principais personagens. Maria José Gonzaga, conhecida por Zeza, é uma artista que não poupa criatividade e conhecimento da arte do Cariri, quando o assunto é produzir quadros com um colorido especial. Um trabalho minucioso, que passou a fazer parte da exposição "Cariri entre linhas e pontos", aberta na noite de ontem, no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Juazeiro do Norte.

Zeza diz que está apenas iniciando um trabalho. É mais de uma década da técnica que aprendeu com a família Dummond, em Ubajara. Na exposição, estarão 25 telas de uma coleção que ela iniciou, com a intenção da falar do Cariri. A artista já expôs na região em locais como o Sesc. Os trabalhos estarão expostos, mas Zeza afirma que também estará recebendo encomendas.

Para os mais trabalhados, com temas que envolvem um número maior de personagens, a exigência da artista é maior. Ela afirma que pode demorar até dois meses para produzir. Em cada um deles, a linha sobre a tela de lona muda de tonalidade, a exemplo do pau-da-bandeira de Santo Antônio, em Barbalha. Para cada personagem são roupas diferentes, cabelos, cor da pele. E as linhas utilizadas são variadas. O tamanho de cada tela também pode variar.

Personagens
Personagens com o Padre Cícero, Patativa do Assaré, a natureza da Chapada do Araripe, sua fauna com o raro Soldadinho-do-Araripe. A flora, como a flor do pequizeiro, que aponta com sua florada na Chapada, além do pau-de-arara com os romeiros do Padre Cícero estão entre os quadros expostos no CCBNB.

Exclusivas
As peças da exposição são todas exclusivas. Pela primeira vez, segundo ela, o seu trabalho ganha mais visibilidade. Desde o ano passado que se inscreveu para realizar a mostra do seu trabalho. "É um espaço que venho tentando conquistar com a divulgação desse trabalho, que é único em nossa região", diz. A técnica, de acordo com Zeza, se une à cultura regional. É o Cariri no tom alegre do bordado.

MIAS INFORMAÇÕES:
Centro Cultural Banco do Nordeste, em Juazeiro
Exposição de bordados "Cariri em linhas e pontos" - (88) 3512.2855

Elizângela Santos 

Repórter

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