quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Francisco Sousa-Olhar de viajante

Em seu novo livro, o fotógrafo Francisco Sousa revela um Ceará plural e belo, com imagens elaboradas ao longo dos anos de atuação profissional

Mestre Zé Pio, do reisado do Planalto das Goiabeiras, Barra do Ceará, em Fortaleza: um dos personagens retratados em Ceará escrito à luz. Abaixo, Dona Dina, vaqueira de Canindé
FRANCISCO SOUSA

Um mapeamento imagético, um recorte poético, síntese do olhar viajante. Acima de tudo, porém, uma declaração de amor ao Estado. Assim se revela ao leitor o livro "Ceará escrito à luz", do fotógrafo Francisco Sousa, resultado de seleção em edital da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).

Paraense de nascença, Sousa mora no Ceará há 10 anos; é, portanto, filho da terra de coração. A obra reúne mais de 100 imagens elaboradas ao longo dos últimos anos, durante viagens realizadas com o pesquisador e escritor Gilmar de Carvalho por vários municípios cearenses. O livro será lançado, amanhã, no Museu de Arte da UFC, juntamente com a abertura de uma exposição.

O fotógrafo Francisco Sousa, em uma das viagens pelo Ceará: formação autodidata e paixão pelo ofício

Entre os temas capturados por Sousa estão paisagens, comidas, artesanato, manifestações culturais e gente, muita gente - a exemplo dos artesãos, dos mestres, pescadores e outros habitantes da Capital e do Interior. O roteiro das viagens incluiu litoral, serra e sertão, em cidades como Fortaleza, Camocim, Beberibe, Amontada, Barbalha, Quixadá, Crateús, Crato, Juazeiro do Norte, Ubajara, Viçosa, Jaguaribe, ente outras.

Trajetória
Além das fotografias, "Ceará escrito à luz" apresenta minucioso texto de Gilmar de Carvalho sobre a história e a formação do Estado. Nele, o pesquisador aborda desde nosso legado indígena, ainda hoje pouco reconhecido, até a nova cena da literatura e da música cearense. Trata-se do primeiro livro individual de Sousa com colaboração de Gilmar. "Antes, em outros livros, já tinha feito fotografias para acompanhar seus textos. Agora é o contrário, ele serve de complemento para minhas imagens", explica o autor. "Embora não seja um livro didático, é quase isso, porque o artigo está bem completo e detalhado, atualizado, inclusive, com informações recém-descobertas".

Sousa começou a fotografar em 2002, de maneira amadora. A primeira câmera foi uma Montana portátil, que o então aprendiz levou em uma das tradicionais viagens que Gilmar fazia com seus alunos da faculdade para cidades do Interior.

"O grupo foi a um cemitério onde os penitentes faziam a autoflagelação, entre eles o Joaquim Mulato. Fotografei-o e essa foi minha primeira imagem publicada em jornal", recorda Sousa. A partir daí seguiu-se um aprendizado autodidata, empreendido paralelamente a outras atividades, como o curso de Guia de Turismo no Senac-CE e a graduação em Filosofia pelo Itep, no Seminário da Prainha.

Por dois anos, foi fotógrafo freelancer do Diário do Nordeste. Desde 2007, é repórter fotográfico associado ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará. Suas imagens já foram reunidas em livros e exposições no Ceará e em outros Estados. A parceria com Gilmar de Carvalho rendeu títulos como "Artes da Tradição", "Babinski no Ceará" (2005), "Mestres da Cultura Tradicional Popular do Ceará" e "Rabecas do Ceará" (2006).

Pluralidade
Por incluir imagens de vários momentos da carreira de Sousa, "Ceará escrito à luz" revela a rica pluralidade paisagística e cultural do Estado - por vezes desconhecidas pela própria população. "É uma terra linda. Muita gente acha que não há beleza no sertão, por exemplo, mas tem sim", alerta Sousa.

"Lembro de uma vez, quando viajávamos de ônibus, que chegamos ao destino cedo de manhã. Olhei pela janela aquela luz, o chão batido, uma casa de taipa ao fundo. Uma cena fantástica. E com a primeira chuva tudo isso se transforma", vibra o fotógrafo. Vale ressaltar ainda o valor histórico da obra, com o registro de festas, comidas, vestimentas, peças de artesanato, tecnologias e outros aspectos culturais do povo. Por fim, o livro revela ainda o apuro do olhar de Sousa. "Antes, fazia mais planos fechados, em apenas um indivíduo. Depois, passei a explorar mais o ambiente, o contexto dessas pessoas. Além de ter ficado mais atento às regras de composição em vez de me preocupar somente com o registro", detalha Sousa.

Entre as imagens, vale ressaltar uma de página dupla, de uma romaria no Crato, feita no meio da estrada, onde os devotos aparecem envoltos em neblina. "Peguei um pouco de chão mais do que o céu, justamente em referência a essa ligação do romeiro com o caminho percorrido a pé. Toda semana tem gente me pedido essa foto para colocar em casa", brinca Sousa.

Os personagens fotografados, porém, não precisam nem fazer esse pedido. "Em todos os trabalhos damos um retorno às pessoas, vamos lá e entregamos o livro a elas. Muitas vezes sofremos quando algum mestre mais idoso falece ou tem problemas de saúde".

Mal termina de falar sobre o novo projeto e o fotógrafo já revela outros para o futuro. "Queremos fazer um livro mostrando as viagens, tem muita história sobre o que acontece no caminho", brinca.

Livro
Ceará escrito à luz Francisco Sousa
Expressão gráfica
2011
216 páginas
R$ 80

Lançamento - Amanhã, às 18 horas, no Mauc (Av. da Universidade, 2854, Benfica). Na ocasião, também acontece a abertura de exposição com as fotos do livro, em cartaz até 31 de dezembro. Contato: (85) 3366.7481

ADRIANA MARTINS
 REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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