segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Trabalho voluntário leva estudante para os EUA

Estudante cearense levará experiência de trabalho voluntário realizado na periferia de Fortaleza para os Estados Unidos. Ele foi eleito um dos 45 jovens embaixadores pela embaixada norte-americana

A experiência com o trabalho voluntário na escola fez com que Victor fosse escolhido como jovem embaixador (FOTO: EDIMAR SOARES)

O coração da mulher com nome de estrela está pequeno. Culpa da apreensão. Mas também está feliz. Culpa de um sonho realizado. Pela primeira vez, a cria mais velha vai brilhar em constelação estranha. “É uma coisa que ele desejava muito. Então só posso dar força”, diz Mary Dalva Moreira Plácido, 38.

Cearense de Fortaleza, Victor Moreira Plácido Costa, 18, sonha com o voar do tempo até 6 de janeiro de 2012 e o arrastar dos ponteiros até o dia 29 subsequente. É que ele sai do bairro Barroso I, em Fortaleza, rumo aos Estados Unidos. Mérito conquistado pela solidariedade.

Depois de anos divulgando os benefícios da capoeira e, mais recentemente, ensinando inglês aos colegas de sala do 3ºano de Guia de Turismo da Escola Estadual de Educação Profissional Mário Alencar, o autodidata foi eleito “jovem embaixador” por um programa da embaixada norte-americana.

Ele viaja com outros 44 brasileiros escolhidos por serem praticantes do bem. Visitará escolas e projetos sociais nos EUA. Victor concorreu com mais de sete mil pessoas. “No começo, eu fazia trabalho voluntário por influência dos amigos. A filosofia era tirar as crianças de bobeira na rua e colocar pra fazer algo de produtivo. Tive de sair porque entrei na escola, onde passo o dia todo. Mas não quis ficar parado. Comecei a ajudar a professora como monitor. Hoje, tenho uma sala e planejo as aulas, que também têm horário certo”, explica o estudante.

Toda segunda-feira, o almoço vira momento de conversação. É o único dia da semana passado todo na escola. Nos demais, ele cumpre disciplina de estágio numa agência de viagens.

Em média, dez alunos recebem os ensinamentos do filho de dona Mary Dalva, que até tenta aprender espanhol, mas não consegue. Confunde com o italiano, outra língua aprendida por conta própria. Assim como o francês. “Estudo em casa. Cheguei a fazer curso no início, mas parei por falta de condições”, revela ele.

As principais atividades acontecerão na semana que Victor passará em Washington. Será a primeira das três, onde ele participará de atividades culturais e fará apresentações sobre o Brasil.

O adolescente não nega a emoção de conhecer outro país. Mas revela sonho maior. Quer aventuras em terras europeias. Em especial na Irlanda e Escócia. Algo ainda não cogitado pela mãe. “Estou muito orgulhosa, porque sempre disse que o que ele conseguisse seria por mérito próprio. A única coisa que a gente pode dar pra ele, nas condições que estamos, é o estudo”.

Seu filho vai, dona Dalva. Mas volta. E cheio de história pra contar. Por ora, dá lição em muita gente. “Faço o que faço porque tento ajudar na melhoria do ensino público. Faço a minha parte; colaboro como posso”, resume.

ENTENDA A NOTÍCIA

Victor foi escolhido pelo fato de prestar serviços voluntários. É o bem rendendo frutos. Ele passa o que sabe adiante, aprende com os alunos e recebe compensações da vida. Uma lição de solidariedade, tão em falta hoje em dia.

Saiba mais

Victor dá dicas para quem quer aprender inglês. “Eu leio muito, escuto bastante música e assisto muito filme em inglês. Ajuda bastante”.

Ele começou a divulgar os benefícios da capoeira aos 12 anos. Há um ano e meio, ajuda os colegas com o inglês.


Todos os beneficiados pelo Programa Jovem Embaixador são alunos da rede pública brasileira de ensino, têm excelente rendimento escolar, falam inglês fluente, têm baixa renda e perfil de liderança, além de prestarem serviço comunitário.

Para ser escolhido “jovem embaixador”, Victor apresentou documentação e passou por testes de inglês nas modalidades escrita e oral.


Na fase final, ele concorreu com outros dois cearenses: André Lucas Rodrigues Moreira, da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dom Helder Câmara, e Fernanda Ribeiro Pinheiro, do Liceu Vila Velha. 

Bruno de Castro
brunobrito@opovo.com.br

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