Entre 2002 e 2010, o Estado perdeu 42,8% destes estabelecimentos de ensino, afirma Ipea
O Nordeste sozinho é responsável por 55,4% do total de escolas rurais fechadas de 2002 a 2010, 15.358. Na região, o Ceará é o Estado que apresenta o maior número, com 42,8% menos escolas rurais em 2010, se comparado a 2002. Já o Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia e Piauí tinham, em 2010, quase um terço a menos desses estabelecimentos no campo do que em 2002. Os dados são da publicação "Políticas Sociais: acompanhamento e análise", divulgada, ontem, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
De acordo com especialista, a principal causa dos fechamentos das escolas é a dificuldade de manutenção e a falta de estrutura Foto: Honório Barbosa
Segundo o estudo, o fechamento acelerado de escolas no meio rural do Nordeste é especialmente preocupante, pois, além de essa região concentrar o maior número absoluto e relativo de população rural no Brasil, é no campo nordestino que estão os maiores problemas de acesso à educação e onde se concentram os piores indicadores.
O mestre em Educação Marco Aurélio de Patrício explica que a maior parte desses estabelecimentos de ensino fecham por conta da dificuldade na manutenção. "Em sua maioria, são escolas pequenas, com difícil acesso. Muitas vezes não têm água, energia e a merenda é entregue de forma irregular", diz.
Ele diz que, como alternativa, os gestores tentam agrupar estas escolas. Porém, com isso, surgem outros problemas, como o de transporte de alunos e a distância destas unidades escolares em relação às residência destes estudantes. "A distância de casa para o colégio é um dos fatores que contribuem para a evasão".
Marco Aurélio avalia a política de fechamento destas escolas como errada, pois, segundo ele, não há o espírito de deixar a escola mais perto do aluno. "O fechamento não pode ser uma medida econômica, mas, sim, por um planejamento inteligente, visando cumprir as metas de educação nacionais. Afinal, a população destas regiões são as mais carentes e pobres e a educação é a única alternativa de melhores condições de vida", conclui ele.
Construção
A Secretaria da Educação do Estado (Seduc) informou que foram construídas cinco escolas de Ensino Médio (EM), localizadas em assentamentos. Os estabelecimentos contam com estrutura que atende à realidade camponesa com a mesma qualidade das escolas construídas em áreas urbanas. Além destas unidades, 40 Escolas de Ensino Médio foram entregues nos últimos cinco anos na área rural.
De acordo com a Seduc, alunos e professores têm acesso a bibliotecas, laboratórios de Línguas, Informática e de Ciências, espaço para o Grêmio Estudantil e quadra poliesportiva. O objetivo do Estado é ampliar e melhorar a rede de ensino no Interior, propiciando a permanência do aluno nas localidades onde moram e reduzir o uso do transporte escolar.
Em todo o Brasil, o total de escolas do campo fechadas entre 2002 a 2010 é de 27.709. Em termos percentuais, em 2002, as escolas do campo representavam mais da metade de todas as escolas de ensino básico brasileiras, 50,2%. Em 2010, este número diminuiu para 39,7%.
Campo ainda precisa de maior incentivo
Ainda é preciso impulsionar e melhorar as políticas públicas direcionadas ao desenvolvimento rural no Brasil, em especial aos agricultores familiares, aponta o estudo "Políticas Sociais: acompanhamento e análise", realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Conforme a análise, 7.593.352 brasileiros pertencentes à população rural estão em extrema pobreza. Destes, 5.049.317 residem no Nordeste. O levantamento aponta como fatores que ressaltam esta exclusão social as estruturas fundiárias, as formas predominantes de acesso à terra e água e as relações de trabalho.
Outro dado revelado é que, até dezembro de 2010, no Ceará, 20.955 famílias estavam em assentamentos e recebiam o incentivo de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento rural. Segundo o estudo, "dois grandes desafios devem ser compatibilizados como forma de o governo dispor de estratégia com maiores chances de sucesso no enfrentamento à extrema pobreza rural: recolocar a reforma agrária no centro das políticas de inclusão e justiça social no campo e reformular pontos do Plano Brasil Sem Miséria de forma a incluir o acesso à terra".
André Ferreira, professor do Departamento de Teoria Econômica da Universidade Federal do Ceará (UFC), reitera que é preciso investir em grande escala em ações voltadas para a agricultura familiar e para a melhoria nos assentamentos rurais.
THAYS LAVOR/JÉSSICA PETRUCCI
REPÓRTERES
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