quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Na rota do Pe. Antônio Vieira

Em terras alencarinas, o professor e navegador António Abreu Freire comanda o veleiro na subida do Rio Coreaú
FOTO: DIVULGAÇÃO
No roteiro original da viagem do missionário, revivido pelo CHIC, estão incluídos Camocim e a Serra da Ibiapaba

Fortaleza Há quase três anos, o professor e navegador português António de Abreu Freire decidiu refazer, a bordo de um veleiro, o trajeto do padre Antônio Vieira entre Portugal e Brasil, realizado no século XVII, em 1641. O Cruzeiro Histórico Identidade e Cidadania (CHIC) foi parte de um projeto da Universidade de Aveiro (Portugal) para celebrar os 400 anos de nascimento de um dos principais personagens da história luso-brasileira. Na próxima semana, o professor estará em Fortaleza, de onde seguirá até o Maranhão, onde trabalha num documentário filmado sobre Pe. Vieira.

Em entrevista concedida de Portugal, Antônio Abreu Freire conta que o objetivo do cruzeiro, ao repetir a epopeia do padre Vieira, foi "dar a conhecer melhor a dimensão do seu gênio, com a publicação do livro intitulado ´Diário de Bordo´, escrito ao longo da viagem. O veleiro partiu no dia 17 de março de 2007, fez escala em Cabo Verde e chegou a Salvador no dia 30 de abril. Em seguida, fez escalas em Recife, Camocim, São Luís e Belém, percorrendo, a partir desses portos, os espaços por onde o padre Vieira percorreu na sua atividade de educador, político, pregador e Missionário".

Piratas

O escritor descreve a vida de Vieira como "uma história de projetos inacabados e de paixões sublimes. Ao longo da sua existência, ele passou por espaços que foram e continuam a ser emblemáticos". O escritor lembra que o missionário " atravessou o Oceano Atlântico sete vezes, fez 15 grandes viagens marítimas, foi vítima de piratas e naufragou, mas nada o fez desistir de enfrentar o seu destino de cidadão do mundo".

Além da fúria do mar, no histórico cruzeiro, a tripulação, formada por quatro pessoas, se deparou com vários dissabores. Se não encontraram os piratas que atacaram a comitiva do padre Vieira, se depararam com problemas comuns nos nossos tempos. "Em Cabo Verde, na Ilha de Santiago, Cidade da Praia, fomos vítimas de um assalto a mão armada quando estávamos ancorados na noite que precedeu a nossa largada para Salvador. Levaram computadores, dinheiro, máquinas fotográficas e nossos passaportes".

Novo assalto

Em Salvador, mais um susto. "Desta feita, o assalto foi no meio da rua. Nos levaram a máquina fotográfica que estávamos a trabalhar. O pior é que, no dia seguinte, fomos vítimas de um golpe que nos deixou sem dinheiro. Nossa conta bancária foi esvaziada, depois que clonaram nossos cartões". A via- crúcis da comitiva não acabou por aí. No Pará, foi a vez dos chamados "ratos de água" agirem. "Estes só queriam comida e roupa. Levaram nossas reservas alimentares nas vésperas da largada de Belém. Deixaram-nos umas garrafas de cachaça, dizendo que não a queriam porque não era boa".


Apesar de tudo, o professor António Abreu enfatiza que "as alegrias foram tantas que compensaram todos os percalços, todos os momentos difíceis em que faltou o dinheiro, em que fomos assaltados e corremos riscos de perder a vida. O importante é que fizemos uma grande viagem, fomos e voltamos. Realizamos esse projeto para prestar uma homenagem ao padre Antônio Vieira, o maior luso-brasileiro de todos os tempos".

MAIS INFORMAÇÕES

Sobre a viagem, conferir o blog antonioabreufreire.bloguepessoal.com ou no site http://www.ua.pt (Universidade de Aveiros-Portugal)

AVENTURA
Percurso de quase meia volta ao mundo

O Cruzeiro Histórico Identidade e Cidadania (CHIC), que serviu de tema para o livro do professor, escritor, ensaísta e navegador António de Abreu Freire "Diário de Bordo" fez parte de um projeto da Universidade de Aveiro que comemorou, em 2008, 400 anos de nascimento do padre Antônio Vieira. Cumpriu um percurso de 10 mil milhas náuticas, o equivalente a quase meia volta ao mundo. O veleiro sueco - um Elan 43 com 18 anos de uso - deixou Aveiro em março de 2007 e regressou um ano depois. Na primeira etapa, passou pela Ilha da Madeira, Cabo Verde, Salvador, Recife, Camocim, São Luís, Belém, Caraíbas, Bermudas, Açores e Portugal. A tripulação foi sempre de quatro pessoas, sendo que António Freire e o engenheiro alemão Dietmar Schramm participaram do roteiro completo. Já o cinegrafista português Luís Costa fez a viagem até Belém; Jaime Castro, português, viajou de Portugal a Salvador; Henrique Naomi, artista baiano, foi de Salvador a Belém. João e Rafael Quaresma, brasileiros paraenses, foram de Belém a Portugal.

Fernando Maia
Repórter

Fonte: Diário do Nordeste 

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