sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O baile do Zé

Aos 70 anos, Zé Tarcísio recebe homenagem.
 Em celebração aos 70 anos do artista plástico Zé Tarcísio, o Sobrado Dr. José Lourenço realiza hoje, das 19h às 23h, o "Baile ZéTenta". A festa, aberta a amigos e admiradores do artista, será animada pelo Quarteto de Cordas da Orquestra Eleazar de Carvalho

Figura carismática e querida do meio artístico cearense, Zé Tarcísio é um artista "multi", com muitas lembranças na bagagem. São histórias de vida que se cruzam e repercutem em sua arte. Uma poética libertária, reflexiva e comprometida com os problemas do mundo. De um ser artista-cidadão que contribuiu (e contribui) para divulgar a produção artística do Ceará aonde quer que ele vá.

Com mais de 50 anos de carreira, Zé Tarcísio chega à casa dos 70. Nesta data especial, o artista ganha, hoje, das 19h às 23h, uma justa homenagem, no Sobrado Dr. José Lourenço, de amigos e admiradores de seu trabalho. O "Baile ZéTenta", assim, chamado carinhosamente o evento, terá como tema a fusão de dois estilos festivos: o de baile e a festa infantil.

"Estamos fazendo uma homenagem a tudo que o Zé Tarcísio representa para a cultura cearense. Ele que é um artista com penetração nos mais diversos segmentos artísticos. Quando perguntamos como ele queria a festa, Zé expressou o desejo de que fosse um baile. Acho que é pela áurea do próprio Sobrado, onde já funcionou um bordel. Ao mesmo tempo, ele queria uma festa infantil (risos). Então será um baile infantil, um verdadeiro ´mingau pop´, com DJs", conta Dodora Guimarães, amiga do artista e uma das organizadoras da festa de homenagem.

A curadora acredita que o baile vai ser uma surpresa não só para Zé Tarcísio, mas também para todos que estarão presentes. "Por ele ser sempre tão eclético e mergulhado numa intensa ebulição criativa, o Zé é uma figura surpreendente que sempre nos emociona", diz.

O aniversariante

Enquanto os preparativos rolam às soltas para o tão esperado baile infantil, o aniversariante é só felicidade. Parecia mesmo uma criança ao falar de sua festa. "Nossa, está tendo uma repercussão muito grande no meio artístico! Vai ser o aniversário que não tive aos sete anos de idade, com apitos e chapeuzinhos, uma coisa bem simples e descontraída. São 70 anos... Uma soma boa de alegria. A minha vida predomina a alegria e a liberdade. Sou uma pessoa feliz. Trabalhei muito para ter a liberdade que tenho hoje. A arte se mistura com minha vida", explica Zé Tarcísio.

O artista destaca que, ao longo desses anos, buscou dividir suas habilidades entre vários setores das artes, uma vez que sobreviver apenas como artista de ateliê é muito difícil. "Procurei me diversificar dentro do campo artístico. É complicado viver só de uma única coisa, entende? Fiz pinturas, esculturas, gravações, fotografei... Mas, está tudo ótimo mesmo".

Em voz num tom mais baixo, quase sisudo, ele confessa: "queria mesmo era estar completando 37 anos, mas esse é o ciclo da vida, né? Tenho muitos sonhos a conquistar ainda, quero conhecer o Oriente. Além de fazer a ´FunZé, ´uma fundação onde estará guardada minha produção artística e trabalhos de outros artistas que fazem parte do meu acervo pessoal", diz.

Zé Tarcísio tem uma produção poética variada, e independente da fase em que se encontra, o artista nunca deixou de incorporar ao seu trabalho a realidade política, social e cultural do País. "Sempre fui muito polêmico e engajado. Não sou só aquele artista que pinta flor. Tenho minha opinião política. Acho importante pensar a arte junto com cidadania. Nos anos 1960, usei a minha produção para denunciar os abusos da repressão da ditadura militar. A minha insatisfação com o sistema".

Ele continua: "Posteriormente procurei esboçar as minhas preocupações ecológicas. Os cuidados que devemos ter com o planeta. Além de expressar a religiosidade popular do Interior do Ceará".

Retrospectiva

O artista, que viveu cerca de 30 anos no Rio de Janeiro, liderou ao lado do pernambucano Carlos Zílio, a lista dos jovens artistas que agitavam a cena carioca. A relação contida na enquete "Nossos jovens mais discutidos" foi publicada pela revista "Manchete, em 1969.

Diante dessa trajetória tão intensa, Zé Tarcísio a convite do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro ganhará uma "survey", um tipo de retrospectiva mais resumida, com um total de 30 trabalhos pertencentes ao próprio acervo do museu.

A curadoria da mostra, que ficará em cartaz de 12 dezembro de 2011 a 19 de fevereiro de 2012, ficará sob o encargo de Ricardo Resende. Além da mostra, Zé Tarcísio terá, pela primeira vez um catálogo com suas obras publicadas pela editora Pinakotheke São Paulo. O livro contará com textos de Rezende e outros escritos da época em que cada obra foi exposta. O artista também será homenageado pela edição deste ano do Salão de Abril.

MAIS INFORMAÇÕES

Baile ZéTenta, no Sobrado Dr. José Lourenço, hoje, das 19h às 23h. Aberto aos amigos e admiradores do artista. Contatos: (85) 3101.8827.

ANA CECÍLIA SOARES
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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