quarta-feira, 15 de junho de 2011

'Mãe e Filha' conquista o público no Cine Ceará

"Mãe e Filha", filme de beleza intensa, e muito pungente, comoveu o público do Cine Ceará. Dirigido pelo cearense Petrus Cariry (filho do cineasta Rosemberg Cariry), "Mãe e Filha" coloca o universo sertanejo em diálogo com a escola russa de Tarkovski, Paradjanov e Sokurov, influências reconhecidas pelo cineasta.

A história é simples e densa ao mesmo tempo. Uma mulher (Juliana Carvalho), moradora em Fortaleza, regressa ao sertão para levar à sua mãe um triste presente - um bebê morto, que seria seu primeiro neto. A senhora (Zezita Matos) vive em meio às ruínas do que um dia deve ter sido seu palacete senhorial. A própria cidade está abandonada e corroída pelo tempo. Lembra um pouco o ambiente de Comala, de Juan Rulfo, em seu "Pedro Páramo". Vive-se entre fantasmas, e com um morto por enterrar.

A filmagem foi feita na cidade fantasma de Cococi, no sertão do Inhamuns, onde Petrus já havia realizado o curta "Dos Restos e das Solidões" (2006), primeira etapa do que será uma "trilogia involuntária" em torno dessa cidade, abandonada por questões políticas e vinganças entre famílias rivais. Há um drama familiar também em curso no tema proposto por Petrus. A mulher jovem é a figura racional, que deseja romper com uma ancestralidade já morta. A avó, que não deseja enterrar o neto, é a preservação da tradição, com elementos míticos, representados, por exemplo, por quatro vaqueiros, que podem ser "lidos" como cavaleiros do apocalipse, num universo imerso na religiosidade.

É um filme de múltiplas leituras, profundo e rigoroso, como deseja seu diretor, um jovem cuja carreira deve ser acompanhada com atenção. O mais incrível é que "Mãe e Filha" foi feito com meros R$ 150 mil, filmado com uma câmera 7D, fotográfica, e montado em um notebook. "Queria fazer com orçamento mais folgado e em 35 mm. Não deu, eu não ia ficar esperando, e filmamos com os recursos que tínhamos; esse filme é filho da tecnologia." São caminhos novos que se abrem para o cinema.

O outro concorrente da noite foi o muito mais convencional "Pássaros de Papel", do espanhol Emilio Aragón. Com uma história ambientada durante a Guerra Civil, pouco apresenta além do que já foi exaustivamente tratado pelo cinema. Mas é muito benfeito e agradou ao público. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um comentário:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

É lugar comum, mas eu digo : "tal pai. tal filho"...parabéns, ao Petrus Cariri. Vou assistir, imagino, um filme no Cococi, deve estar mesmo uma beleza!
Conheço a, hoje, "cidade fantasma". Minha bisavó quando emigrou do RN, para o Ceará, morou lá por uns tempos, na casa da família Feitosa.
Incrível cenário, para um filme cearense.
Parabéns, Toto Rios, pela divulgação, não acompanhei o Cine Ceará deste ano, obrigada.
Um abraço