sábado, 7 de janeiro de 2012

Dragão do Mar em preto e branco

Resultado de oficina de xilogravura pode ser visto em exposição no Espaço Multiuso, no Dragão do Mar

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É visível a importância do fazer artístico e da fruição estética para o desenvolvimento de crianças e adolescente. Este contribui, dentre outros aspectos, para o fortalecimento de seu potencial cognitivo. Como reconhecimento não só da necessidade, mas também da capacidade, transformadora da arte, experiências desse tipo vêm sendo realizadas em Fortaleza.

O Núcleo Educativo do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) promove um trabalho onde arte e educação estão interligadas no processo de construção de um pensamento pedagógico que busca a dinâmica entre o sentir, o pensar e o fazer. Dessas atividades, as oficinas de gravuras ministradas pelo artista visual Eduardo Eloy têm contribuído não só com a formação de jovens e adultos, mas também no estimulo para as artes e na descoberta de novos talentos da terra.

Coletiva

A partir da exposição "Um olhar sobre o Dragão do Mar", aberta desde a última quarta-feira, no Espaço Multiuso do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, é possível entrarmos em contato com a produção de cerca de 26 alunos, que participaram, intensamente, do curso Imagens da Cidade - Educação Patrimonial Através da Xilogravura, ocorrido no ano de 2004.

De acordo com Eduardo Eloy, também responsável pela curadoria da mostra, tudo começou com um exercício artístico, onde ele convidou os alunos (jovens moradores do entorno do Dragão do Mar), a perceber e representar a cidade por meio de um de seus ícones mais significativos.

A exposição, portanto, tem como foco de atenção o olhar desses jovens sobre a arquitetura do Centro cultural como fonte para um exercício poético com o auxílio da xilogravura, técnica tão marcante da expressão artística no Ceará.

image As xilogravuras têm como fonte de inspiração a arquitetura do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura MARINA CAVALCANTE

Percepções

"Após sete anos, as obras, que fazem parte do acervo do Instituo de Arte e Cultura do Ceará (IACC), voltam a ser apresentadas ao público, evidenciando a criatividade dos artistas e a contemporaneidade da técnica. A exposição tem como cenário o Espaço Multiuso, visando proporcionar ao visitante um contexto mais intimista com as obras, sem a perda com a totalidade do tema", explica Eduardo Eloy.

O artista ressalta que o resultado da oficina é fantástico, uma prova do esforço e da criatividade de seus participantes. "Temos reunidos nesta exposição, os mais curiosos e singelos olhares. Embora oriento os alunos no decorrer do processo, não intervenho na expressividade deles. Assim, temos obras oriundas de olhares autônomos", frisa.

Eloy conta que durante o curso foram produzidas mais de 100 matrizes, sendo 30 delas escolhidas para a mostra. Nessa mesma linha, relacionada a arte, a educação e o patrimônio, o artista desenvolveu duas séries com outras turmas de alunos: "Um olhar sobre o Theatro José de Alencar" (2005) e "Um olhar sobre o bairro Jacarecanga" (2006). As obras fazem parte do acervo da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho.

Olhares

Além da exposição "Um olhar sobre o Dragão do Mar", encontram-se em cartaz mais cinco exposições no Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Dragão do Mar. "Nova visitação", de Eduardo Eloy, apresenta 70 desenhos aguados de café, misturado com caneta nanquim e grafite.

Essas obras surgiram de um acidente com uma xícara cheia de café, que foi derrubada pelo artista numa folha em branco. Da mancha sobre o suporte vieram novas indagações e o estímulo para pesquisar os traços aleatórios. Deles surgiram desenhos que dialogam fortemente com a tonalidade trazida à superfície do papel pelo uso da técnica de pintura "aguada".

"Sala experimental", de Paulo Lima e Diego Moreno, versa sobre a temática do movimento, corpo e cotidiano religioso. "Fotografia contemporânea: experimento" traz obras de Marcelo Brasileiro, resultantes de uma experimentação química com emulsão e papel fotográfico. "Cíceros", com fotos homenageando os romeiros de Juazeiro do Norte. As imagens foram feitas pelo fotógrafo Leopoldo Kaswiner no Dia de Finados, e incorporam um trabalho maior do fotógrafo em que retrata figuras populares do Nordeste, como vaqueiros, rendeiras e pescadores.

Há ainda a exposição "30 anos esta noite". O projeto reúne obras de cinco artistas cearenses que iniciaram sua trajetória em meados da década de 1980 e ainda são atuantes em Fortaleza, como: Ascal, José Pinheiro, Tarcísio Felix, Vidal Jr. e Cleoman Fontenele.

FIQUE POR DENTRO

A xilogravura: suas raízes e processos
Esta é uma técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz, possibilitando a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado. É um processo semelhante a um carimbo. A xilo é de provável origem chinesa, sendo conhecida desde o século VI. No ocidente, a técnica já se afirma durante a Idade Média. Ela chega ao Brasil por intermédio dos portugueses, tendo a região Nordeste como sua principal difusora. Francisco de Almeida e J. Borges são grandes gravadores.
Mais informações

Exposição "Um Olhar sobre o Dragão do Mar, em cartaz no Espaço Multiuso. Gratuita. Contatos: (85) 3488. 8600

ANA CECÍLIA SOARES
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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