domingo, 27 de março de 2011

Caminhos de artista

Neste célebre domingo, em que o mundo comemora o Dia do Teatro, o Diário do Nordeste volta seus olhares para aprendizes e mestres. Os alunos escolhem seus caminhos formativos, enquanto os mestres repensam seus espaços de debates e de encontros. O Caderno 3 traz hoje a voz de atores e diretores, dá dicas de cursos, discute sobre os festivais do País e apresenta o rico calendário de artes cênicas de que o Estado dispõe. Arrumem-se nas poltronas e desliguem os celulares. O espetáculo já vai começar!

Joca Andrade com os alunos do curso de pricípios básicos do TJA
FOTO: ALEX COSTA
Talentos artísticos são, por vezes, descobertos com uma ajudinha do acaso. Mas depois de identificados é importante pensar em aprimorá-los. No Ceará, não são poucas as pessoas que percebem, na escola, na igreja ou entre os amigos, um gérmen de talento para as artes cênicas.

Alguns deles se tornam atores, diretores e até dramaturgos amadores dentro de seus círculos sociais, mas nem todos decidem tornar a atividade em profissão. Muitos por não acreditarem no teatro como uma carreira estável, outros simplesmente não sabem por onde começar.

Para dar continuidade aos estudos de teatro, seja com o intuito de aprimorar o hobby ou até alcançar a chance de se apresentar em grandes palcos do Estado e fora dele, são necessários estudos complementares, que auxiliem a compreender as nuances das artes de interpretar, dirigir e e escrever para a cena.

Pensando nessas demandas, alguns equipamentos de Fortaleza e companhias da cidade ofertam cursos de formação, em que os princípios básicos do teatro são repassados aos jovens futuros atores, iluminadores, figurinistas ou diretores.

Espaços e alunos
Detentor do título de curso de teatro mais tradicional de Fortaleza, o Curso Princípios Básicos do Theatro José de Alencar foi idealizado entre os anos de 1987 e 1989, tendo se firmado como curso de formação há 20 anos, em 1991, no período pós-reforma do Theatro José de Alencar. Comandado pelos diretores João Andrade Joca e Paulo Ess, o CPBT já formou 642 jovens artistas, responsáveis pela montagem de 38 espetáculos de encerramento de turma.

Pelo Curso Princípios Básicos se formaram grandes atores e criadores teatraos, como Gero Camilo, ator das produções "Bicho de 7 cabeças", "Carandiru" e "Abril despedaçado"; Silvero Pereira, diretor do Grupo Parque de Teatro, reconhecido pela trilogia "Cabaré da Dama" sobre o universo das travestis; e Almeida Jr., diretor da Companhia Teatral Acontece, realizadora, há 8 anos, do festival de esquetes Fecta.

Segundo Joca Andrade, pelo menos 70% das pessoas que procuram o curso tem entre 15 e 18 anos. Metade delas vem de escolas públicas e alguns são alunos universitários das mais diversas áreas: matemática, física, letras e etc. Sobre isso, um dado curioso é a presença de pessoas que já fazem cursos de ensino superior em teatro, que procuram o CPBT para vivenciar uma maior imersão na prática, já que as faculdades, de acordo com o depoimento dos estudantes a Joca, prioriza a teoria.

A maioria dos iniciados, no entanto, não dá continuidade à carreira. "Após 20 anos de curso, de uns 100 que se formaram, conseguimos identificar 10 ou 12 que ainda estão trabalhando com teatro". Esses estão presentes no circuito não apenas como atores, mas como produtores, diretores, roteiristas, performers e professores de teatro em escolas e cursos. Joca admite que o mercado para teatro, apesar de já ter melhorado bastante, ainda não é nada fácil. Para os atores com veia cômica apurada, a melhor alternativa para certa estabilidade financeira tem sido os shows humorísticos: peças de humor ou stand-up.

"O público tem comparecido de forma muito intensa e as oportunidades estão surgindo: a popularidade de artistas da periferia, as políticas de editais, tudo isso colabora para a formação de um teatro mais comercial, eu diria. Um exemplo é a companhia Vemarte, que nos procura para indicar atores. Eles pagam ensaio, temporada, os atores tem um salário. Isso é maravilhoso", afirma Joca.

Um dos grandes orgulhos do dramaturgo foi poder indicar uma de suas alunas, a atriz Roberta Sieny, e vê-la satisfeita como nunca: a primeira assinatura de sua carteira profissional foi como atriz. "Os jovens que sonham em fazer teatro por toda a vida precisam acreditar nisso, existem caminhos", reforça João Andrade Joca.

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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